“Não recuso reunir com o Governo. Como, aliás, nunca recusei. Mas, nesse encontro, têm de estar presentes o primeiro-ministro António Costa ou o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira”. As palavras de José Gouveia saem numa voz mais arrastadas que de costume, mas denotam a mesma determinação do primeiro dia. O porta-voz do movimento “A Pão e Água”, um dos nove empresários da restauração e da noite que, desde sexta-feira, estão em greve de fome frente à Assembleia da República, confessa ao i que o físico começa a ceder, mas nem assim tem intenção de recuar no protesto por mais apoios para os setores e pela reabertura dos negócios.
Ontem, António Costa dirigiu-se diretamente ao grupo pela primeira vez, apelando “a que não se prolongasse esta situação de impasse, que não nos vai levar a lado nenhum”. O primeiro-ministro referiu que “os problemas resolvem-se dialogando e encontrando soluções”, e aproveitou para voltar a recordar que o Governo apenas reúne com associações representativas dos setores – Pedro Siza Vieira reuniu, ontem, com a Confederação do Turismo de Portugal e, hoje, tem encontro agendado com a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal. “Ainda no passado dia 18 [de novembro] os secretários de Estado do Turismo e do Comércio estiveram reunidos com o senhor José Gouveia, que é presidente da Associação de Discotecas Nacional, e ainda ontem [terça-feira] os senhores secretários de Estado voltaram a enviar um e-mail a mostrarem disponibilidade para reunirem amanhã [hoje] com o senhor José Gouveia, portanto, não é verdade esta ideia que o Governo não dialoga”, disse o primeiro-ministro.
Ao i, José Gouveia confirma a abordagem, mas recusa-a prontamente. “O senhor primeiro-ministro está dar-nos uma colher de chá, mas chá temos aqui muito”, ironiza. “Nunca fechámos a porta ao diálogo, mas voltamos a afirmar: ou falamos com António Costa ou falamos com Pedro Siza Vieira”, reforça Zé Gouveia, que lembra que também é presidente da Associação de Discotecas Nacional e, por isso, “podia representar todo o setor a nível associativo”.
O empresário, uma das figuras da noite lisboeta – que já esteve à frente de casas como Plateau, Docks, Indochina ou Kings and Queens, entre outras –, é também uma das vítimas da crise, depois de ter visto o seu contrato com a Amorim Luxury (onde era o rosto da animação noturna do grupo) suspenso. “A última vez que reuni com o secretário de Estado do Comércio, João Torres, foi-me dada a informação que, neste momento, o Governo não tem mais dinheiro. Resta-nos, portanto, tentar conversar com as pessoas que têm o poder para tomar decisões, e essas são o primeiro-ministro e o ministro da Economia”, diz.
O primeiro a ceder e desfile de políticos O grupo de nove empresários em greve de fome tem resistido, desde sexta-feira, a água, chá e café. O primeiro a ver a sua saúde ceder foi Ljubomir Stanicic, depois de ver os seus níveis de açúcar no sangue descerem para valores muito baixos. O conhecido chef foi transportado de urgência para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, esta quarta-feira à noite, mas entretanto já teve alta hospitalar e voltou a juntar-se ao protesto.
Depois de no feriado de terça-feira cerca de uma centena de pessoas se ter deslocado ao Parlamento para manifestar o seu apoio a esta luta, nas últimas horas tem havido um autêntico corrupio de políticos junto ao acampamento improvisado do movimento.
João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, Francisco Rodrigues dos Santos, do CDS-PP, André Ventura, do Chega, e Adão Silva, líder parlamentar do PSD, marcaram presença no local. Ao i, José Gouveia volta a referir que “não fecha as portas a ninguém que queira conversar” e que “revele preocupação em resolver a situação”, mas recorda que “esta luta é totalmente apartidária”.