Por Judite de Sousa
Há várias formas de pobreza. A crise pandémica agravou as dificuldades dos setores mais vulneráveis da sociedade, já de si tão expostos aos anos difíceis com que nós temos confrontado. Mas há outros níveis de pobreza: a ausência de compaixão, o distanciamento gerado por frivolidades, o individualismo revelam pobreza nos relacionamentos humanos. Talvez seja esta uma das principais marcas do nosso tempo: tão próximos e tão distantes; tão frágeis e tão presumivelmente fortes.
A real dimensão da pobreza decorre da perda de alguém que por alguma razão está no nosso radar de vida. Tenho para mim que Eduardo Lourenço era um farol numa época que assiste ao desmoronamento de valores e que vive sob a espuma do tempo. Estas primeiras décadas do século XXI não têm sido promissoras. Nem a promessa do ‘homem novo’ vingou. Eduardo Lourenço fez parte do ‘século dos intelectuais’, precisamente o nome de um livro que nos ajuda a compreender a complexidade de problemas aparentemente simples e dos que tomamos como inacessíveis. Nos seus livros encontramos uma leitura multidimensional da existência, um olhar único sobre quem somos, o nosso contexto e o devir. Eduardo Lourenço definia-se como um pensador e é esse legado que nos deixa: uma obra ímpar que nos deve levar a uma introspeção para elevarmos a nossa humanidade.