O ano 2020 será, seguramente, um marco histórico por força do surgimento de uma pandemia que, no nosso país, já dura há dez longos meses e cuja esperança de resolução reside na vacinação. Em março, aquando do início dos casos, diversos atores políticos caracterizaram a situação como se de uma guerra se tratasse. Ora para vencer a guerra é necessário delinear uma estratégia. Recorrendo à etimologia da palavra, esta vem do grego, ‘stratos’ que significa exército e ‘agem’ que significa comandar ou conduzir. A estratégia é o plano geral de uma campanha militar para ganhar uma guerra. Na esfera empresarial, a estratégia é um plano que integra as metas, as políticas e as ações de uma organização conferindo-lhes coerência. Uma estratégia bem formulada, procura afetar os recursos respeitando as competências e deficiências internas, observando as mudanças do contexto. Nesse sentido, torna-se importante procurar conhecer ou prever o desconhecido de forma a desenvolver planos consistentes, confiáveis e pouco intuitivos pelo que a qualidade da informação obtida para esse efeito passa a ter uma maior relevância e a existência de um sistema de informação bem estruturado que permita recolher, armazenar, recuperar e disseminar informação assume particular importância. A este propósito, foram tomadas medidas sustentadas no facto de mais de 60% dos contágios ocorrer em ambiente familiar.
No entanto, em novembro, a DGS admitiu dificuldades na obtenção de informação sobre a origem dos contágios referindo que em 81% dos casos não se sabe de onde este surgiu, mas nos casos em que foi obtida informação, 60% teve origem em contexto familiar pelo que o valor fica muito aquém do inicialmente referido, podendo enviesar a tomada de decisão. Para além disso, têm sido reportados muitos problemas com o rastreio. Ainda no âmbito do acesso à informação, importa que nos questionemos: será que ao longo destes meses, enquanto soldados chamados ao combate obtivemos sempre informação consistente e fiável? Se nos lembrarmos do histórico das reuniões da Direção-Geral de Saúde não será difícil responder. Mas se ao nível da informação se constatam problemas, ao nível do planeamento também se podem identificar. Disso foi exemplo o planeamento da campanha de vacinação contra a gripe, a gestão da capacidade instalada em termos de camas em Unidades de Cuidados Intensivos, que tem aumentado à custa da afetação de recursos alocados a outros serviços com prejuízo dos mesmos, ou a ausência de planos para os lares e as prisões que suscitaram a intervenção do Presidente da República junto da tutela.
Perante tal cenário, esperava-se que as entidades públicas responsáveis pela condução desta guerra delineassem uma estratégia que permitisse ganhar diversas batalhas sobre o vírus. Chegados aqui parece que já perdemos algumas, mas uma outra se avizinha. Será esta ganha? O plano de vacinação da covid-19 será decisivo.
*Diretora do 1º ciclo de Gestão da Universidade Lusófona do Porto