Com o prazo limite do período de transição do Brexit, 31 de janeiro, a aproximar-se a passo rápido, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, vai encontrar-se com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, esta quarta-feira, em Bruxelas. O anúncio da reunião surge num momento auspicioso para as negociações, após o Reino Unido abdicar de novas cláusulas relativas à Irlanda do Norte, que violavam o acordo de saída com a UE e a lei internacional. Ainda assim, nessa manhã Johnson avisara que seria ”muito, muito difícil” conseguir um acordo e que o Reino Unido está pronto para um No Deal Brexit.
Talvez esta apressada corrida a Bruxelas, entre expectativas e demonstrações de pouca esperança, seja “uma peça de coreografia política standard”, com o objetivo de gerar “grandes manchetes dramáticas antes da grande vitória no último minuto”, avaliou Laura Kuenssberg, editora de política da BBC.
Para Kuenssberg, é bem possível que, no final desta semana, Boris Johnson “regresse como um herói conquistador para os seus apoiantes, mostrando aos céticos que lhe disseram que um acordo não era possível que estavam errados, outra vez”. Contudo, até agora, tudo indica que “as negociações oficiais basicamente chegaram a um beco sem saída e que ainda há amplas falhas a colmatar”.
De facto, o que não faltam são obstáculos. Ainda esta segunda-feira, Johnson e Von der Leyen emitiram um comunicado conjunto, admitindo que “ainda não estão reunidas as condições para a finalização de um acordo e que permanecem diferenças significativas em três assuntos críticos: concorrência, pescas e resolução de disputas”.
“Vamos ser lixados” Entre estes assuntos, talvez o mais emocional para os defensores do Brexit sejam as pescas, apesar de o setor compor uma parte mínima da economia britânica.
Muito antes do referendo de 2016, o acesso exclusivo ao peixe em águas britânicas era uma bandeira dos futuros brexiteers, símbolo de soberania e de um regresso a uma economia mais virada para a produção.
Por um lado, Londres tem defendido que qualquer acordo deve ter por base que “os territórios de pesca britânicos são primeiro e acima de tudo para navios britânicos”. Por outro, Bruxelas exige acesso a essas águas, contrapondo que sem isso o peixe britânico não terá acesso ao mercado europeu, o que seria um desastre para a indústria.
Para quem a questão mais importa, como os pescadores de Devon, no oeste do país, que choram a morte de um colega no mar o mês passado, não há grandes dúvidas de que o resultado das negociações será o do costume. “Vamos ser lixados”, foi a resposta que o Guardian mais ouviu numa reportagem no porto.