Depois de uma emenda do partido espanhol Más País, que defende a implmentação de uma semana de trabalho de quatro dias, o debate sobre o assunto tem acontecido no país vizinho. As opiniões variam e se há quem considere que poderia ser benéfico para a população, há quem defenda o contrário.
A porta-voz da ministra, María Jesús Montero, garante que o assunto está em cima da mesa do Governo mas ainda não se deu início ao diálogo social. No entanto, a agência Efe tentou saber a opinião de vários especialistas.
O investigador associado da Fundação de Estudos de Economia Aplicada (Fedea), Florentino Felgueroso, por exemplo, defende que seria “forçado” implementar esta mudança via legislação mas concorda com outras formas de o fazer. “A realidade do mercado de trabalho é muito heterogénea: o que pode ser bom para algumas empresas não é bom para outras”, diz o investigador.
Já Daniel Toscani, professor de Direito do Trabalho e Segurança Social da Universidade de Valência diz que “passados 100 anos com esta jornada de trabalho é razoável questionar a viabilidade de redução”. Ainda assim, “não pode ser imposto, tem que vir acompanhado de maior produtividade, além disso, depende do tipo de empresa”.
A Efe diz ainda que os sindicatos também defendem o debate desta medida. “Acreditamos que desde que foi instituída a jornada de trabalho de 40 horas, muito tempo passou e a produtividade aumentou notavelmente, o que permite abrir o debate sobre sua redução”, disse à agência o secretário de Juventude e Novas Realidades do Trabalho do CCOO, Carlos Gutiérrez. Opinião que segue na mesma linha de pensamento de outros sindicatos.
E até no Governo de coligação as opiniões divergem. O ministro da Inclusão e Segurança Social, José Luis Escrivá, diz não ver “margem” para implementar uma semana de trabalho de quatro dias no país mas o secretário de Estado do Emprego e Economia Social, Joaquín Pérez Rey, defende que este “é o grande debate” e deve ser tratado numa futura lei e não nos Orçamentos.
Vantagem e desvantagens Este assunto não é debatido em Portugal. Mas quais são as vantagens e desvantagens? Pedro Rocha e Silva, CEO da Neves de Almeida HR Consulting, afirma que o tema da redução das horas de trabalho decorre da dinâmica social e são várias as vantagens e desvantagens que têm sido estudadas ao longo do tempo. “Atualmente, o principal argumento é que esta redução é um compromisso para com o trabalho flexível que permite aumentar a produtividade, o lucro, o bem-estar, o equilíbrio entre a vida profissional e familiar e um futuro mais sustentável, e que foi exponenciado pela pandemia”, diz ao i. Mas lembra que os especialistas e os estudos se dividem sobre os resultados de uma menor semana de trabalho na produtividade – entendida como a quantidade de trabalho realizada em determinado período.
O especialista chama ainda a atenção para o facto de nem todos os tipos de empresa – como as que funcionam por turnos – conseguirem reduzir as horas de trabalho, dada a natureza do seu negócio. “Acrescenta-se ainda a questão de como alguns segmentos profissionais com uma elevada sobrecarga de trabalho se irão adaptar à ideia de que têm de fazer o mesmo, mas em menos dias. Ainda está por perceber se as experiências de trabalhar menos horas por semana são isoladas ou se vieram para ficar, mas já é claro que a pandemia obrigou as empresas a uma adaptação às novas condições de trabalho, que incluem esquemas mais flexíveis, com opções de teletrabalho. E essa abertura a sistemas mais flexíveis, aliada a mudanças tecnológicas, pode mudar profundamente as formas de trabalho como as conhecemos até agora”, acrescenta.