Um novo estudo publicado na revista Science, na quinta-feira passada, revelou que a conferência da empresa Biogen que decorreu em Boston, no final de fevereiro passado, poderá ter sido responsável por 300 mil infeções de covid-19, que não se ficaram apenas pelos Estados Unidos: casos provenientes desta conferência infetaram pessoas na Austrália, Suécia e Eslováquia.
Apesar de em agosto já ter sido avaliado o impacto desta conferência, que contou com cerca de 200 pessoas no Hotel Boston Marriot Long Wharf nos dias 26 e 27 de fevereiro, na altura concluiu-se que o evento poderia estar na origem de 20 mil casos de covid-19, mas a nova análise levada a cabo por mais de 50 investigadores concluiu que a conferência terá sido mesmo responsável por 1,6% dos casos diagnosticados nos EUA.
Acontece que os investigadores, através de análises genéticas levadas a cabo junto de 28 infetados presentes na conferência, permitiram concluir que a conferência resultou numa “transmissão comunitária sustentada”, numa “ampla” disseminação “regional, nacional e internacional”, lê-se no artigo sobre o estudo publicado na revista Science.
Os investigadores apontam que até ao dia 1 de novembro “um total de 245.000 casos marcados por uma estirpe do vírus e 88.000 casos marcados por outra estirpe estavam ligados à conferência”.
O estudo revelou que a disseminação do vírus a partir da conferência teve maior impacto no estado do Massachusetts, mas também chegou à Florida, Carolina do Norte Indiana, Austrália, Eslováquia e Suécia.
Para a investigadora Bronwyn MacInnis, do Broad Institute de Harvard e do MIT, o evento da Biogen foi “uma tempestade perfeita”. “O momento em que aconteceu foi crítico: foi agendado exatamente quando estávamos a começar a avaliar a ameaça iminente de covid-19 – se fosse uma semana depois, o evento provavelmente teria sido cancelado”, disse em entrevista à CNN.
A empresa de biotecnologia já reagiu entretanto aos novos resultados, adiantando que “fevereiro de 2020 foi um período em que o conhecimento geral sobre o coronavírus era limitado”, mas garantiu que foram seguidas “as diretrizes oficiais vigentes” no evento. A Biogen admitiu que quando foram informados de que vários colegas estavam doentes não sabiam que se tratava de covid-19, mas que notificaram “imediatamente as autoridades de saúde pública” e tomaram “medidas para limitar a propagação”.
A Biogen sublinhou ainda que colaborou com o Broad Institute em abril, de forma a partilhar dados biológicos e médicos para conhecer melhor a covid-19.