Por João Maurício Brás
Uma das principais características do Ocidente nas últimas décadas assenta num conjunto de ideias que enlouqueceram. O progresso degradou-se como progressismo, caução importante para uma visão do mundo onde a economia é tudo.
Lutas e movimentos centrados no combate às mais variadas formas de discriminação transformam-se em monomanias grotescas. Os políticos anuíram, uns por omissão, outros por medo e outros entusiasmados pela oficialização do absurdo. Os media, regra geral, deram o seu contributo e hoje, na opinião pública, em muitas leis e currículos educativos encontramos essas ideias. Pensar ou ser crítico acarreta um elevado risco, pois pode significar ser portador de um conjunto de diversas fobias.
Um ocidente próspero ocupava-se apenas da economia, dos mercados livres que se autorregulam. As questões dos valores foram secundarizadas e posteriormente substituídas pelo direito processual e por uma visão legalista que regula os comportamentos e até os pensamentos e opiniões. As ciências humanas e sociais transformaram-se em ideologia e ativismo, aquilo a que chamam justiça social. O que era apenas exercício intelectual de desconstrução como a teoria critica, os estudos culturais, os pós-colonialismos, a teoria queer, os estudos do feminismo, etc., saltaram os muros da universidade. Uma visão que em tempos lúcidos seria uma anedota é agora confundida com igualdade, tolerância, justiça e inclusão. O mundo ocidental transformou-se num gigantesco supermercado no plano da economia e um manicómio no plano dos valores.
Na luta contra o racismo encontramos negros nas universidades americanas que reivindicam espaços só para negros, alojamentos universitários, cerimónias de graduação, médicos negros só para negros e até movimentos como o Free Black University. Há também agências de viagens e programas de férias só para negros, e até mesmo só para mulheres negras, veja-se a Women of Color Healing Retreat. No mundo anglo-saxónico a cor é fator determinante na admissão de alunos e contratação de pessoal docente e até na constituição dos currículos. Afastar a branquitude é a forma de combater o racismo. A seguir à geração ainda dominante dos gender studies, que são ‘científicos’, temos a colheita do género whiteness studies. Os ‘estudos da branquitude’. Este campo de estudos expõe as estruturas invisíveis que produzem a supremacia branca e o privilégio. São estudos críticos, como é óbvio, e partem de uma certa conceção de racismo que está estruturalmente ligada ao ser branco. Explicam os seus teóricos que até as pessoas brancas antirracistas podem ser, foram ou serão racistas. Será preciso cada branco fazer a contrição, assumir o racismo, mesmo o inexistente.
Uma área que faz também o seu caminho são os fat studies. Os médicos andavam a promover atitudes gordofóbicas ao desaconselharem a obesidade; haveria que desconstruir essa vil opressão. A demanda em causa alcançou foros de área académica sempre com as fundamentais subvenções e bolsas.
Escrevia Mark Lilla que as políticas identitárias estão a destruir a democracia. Acrescentamos, e estão a destruir qualquer combate fundamental pela dignidade da pessoa e por uma sociedade decente.
Ironicamente ou não, o jornalista e escritor António J. Rodriguez adverte-nos no seu livro La Nueva Masculinidade de Siempre: «Haverá machismo até que os homens sejam capazes de beijar outro falo».