Por Francisco Mota, Presidente da Juventude Popular
As últimas semanas merecem uma análise e uma reflexão sobre aquilo que nos foi apresentado, talvez imposto, e o que podemos perspetivar daqui em diante. Sendo certo que já estamos vacinados contra a impreparação, incoerência, sinais contraditórios e a ilusão do Partido Socialista no combate à pandemia, esta semana, fomos premiados, esperemos é que não sejam envenenados, com alguns presentes de Natal adiantados.
Desde logo uma garantia, António Costa está a converter-se de socialista em democrata-cristão, em pleno advento. Ensaiou um discurso diferente para o Natal, devolvendo uma responsabilidade individual a cada português e a cada família, segundo o mesmo, porque não tem o direito de condicionar as liberdades individuais e que, mesmo em pandemia, há o respeito à propriedade privada. Mas apenas para celebrar o nascimento do Menino Jesus, porque na passagem de ano, volta tudo ao controle da mão do Estado e a covid regressa em força. O primeiro-ministro continua a não ser capaz de liderar, as mensagens são contraditórias e há muito que perdeu a autoridade moral e política, única e exclusivamente, pela sua falta de coragem e de preparação.
Depois do atraso no planeamento e na constituição da comissão de especialistas para a vacinação da covid-19, o Governo caiu na tentação de apresentar um plano de ação volátil, com um tom demasiado calculista, onde se sentiu dos intervenientes mais dúvidas do que certezas.
Os ensaios das vacinas não abrangeram os idosos, segundo alguns especialistas, por este grupo não ter sido incluído nos testes, podem ter reações mais agressivas e ter o efeito contrário. Foi inaceitável a forma como o Governo comunicou esta realidade, criando ansiedade nas pessoas mais velhas, que como sabemos é quem é mais vulnerável à pandemia. Mas logo a seguir apressou-se a inverter essa indicação de uma forma atabalhoada. A política não se pode sobrepor à ciência, correndo o risco de ter que assumir a responsabilidade dos efeitos secundários de uma decisão irresponsável e sem sustentabilidade técnica.
Por outro lado, vejo com muita apreensão todo o processo de distribuição e admissão da vacina. A DGS tem uma estrutura arcaica e durante este período da pandemia não foi capaz de criar processos simples como a receção de dados e o seu devido tratamento, tendo existido até alguns episódios caricatos. Era fundamental a criação de um software que assegurasse a distribuição da vacina em articulação com as unidades de saúde, para que não haja falhas no processo. Face a isto, continuo sem perceber, porque não são as Forças Armadas a liderar estes processos, com a sua experiência logística e organizacional, usando multiusos e espaços alternativos aos centros de saúde, até porque não se deveria cair no erro de voltar a sobrecarregar o SNS, os médicos e enfermeiros que já estão desgastados e que têm de continuar a garantir assistência. Aparentemente parece que não se aprendeu nada com o passado recente.
O país apercebeu-se que a escravização do vírus foi secundarizado com o Natal e a possibilidade, mesmo que longínqua, da vacina a partir de janeiro, atenuou o discurso protecionista dos políticos. Assim sendo, este seria o momento de antecipar o início do ano e com isso inverter um possível agravamento da curva epidemiológica com uma testagem massiva. Tal como aconteceu na Eslováquia (5 milhões de habitantes) e agora na Áustria (8 milhões de habitantes) deveríamos ter a mestria de testar toda a população portuguesa nos últimos quinze dias do ano, isolar os casos positivos e os respetivos contactos em isolamento profilático. Seria uma vantagem estratégica para iniciar o novo ano, que espero que confirme uma vitória coletiva perante a pandemia, haja vontade de rasgar na ação em vez de na reação.