Dantes, até para lhes preparar melhor o futuro, educavam-se as crianças, mostrando-lhes que a vida podia ser melhor ou pior. Agora ninguém tem tempo ou paciência para as educar; e no muito as apaparicar, não as preparam para a vida.
Diz-se que estamos a viver a melhor geração das crianças, com a sua melhor preparação. No entanto, nos concursos televisivos, são das pessoas que se portam pior, logo a seguir aos professores (que no meu tempo eram bastante melhores; ou estarei a ficar velho?). Talvez fosse de não haver ainda a mania de ir toda a gente que pode leccionar para as faculdades, deixando os piores para os colégios. Ou a vontade imensa de passar todos, sem precisarem da maçada de estudar.
No Joker, por exemplo, um concurso da RTP1, as criancinhas são tão exageradamente tratadas e ajudadas, que é raro não saírem de lá com a classificação máxima, o que é mais ridículo tendo em conta não vi nenhum adulto obtê-la (a classificação máxima) nesta fase. E no entanto, nem sabem que o rei D. Duarte se seguiu a D. João I, e não a D. João II. Ou que D. Pedro I é mais antigo do que outros reis modernos ou relativamente actuais. Ou que os navegadores portugueses andaram a espalhar pelo mundo Feitorias, e não outros disparates. E fora algumas excepções (por estranho que pareça, sobretudo de rapazes), nem sequer lêem tão bem como seria de esperar. Ou seja: lêem pessimamente. E mesmo assim, lendo mal ou sabendo pouco, lá vão conseguindo as pontuações máximas. Claro que não sentem necessidade de fazer nenhuma preparação, nem saem dali melhores. Se fossem como eu, os pais nem os deixariam ir lá.
Estava a falar no nível de leitura de alguns dos bons alunos dos actuais 5º e 6º anos, equivalentes aos 1º e 2º do 2º ciclo do meu tempo, que se seguiam à 4ª classe. Estes miúdos não me parecem preparados para as adversidades da vida, nem para a simples realidade. Ou seja, não parecem preparados para a vida. E não lhes basta a moda, ainda têm a dificultá-los estes concursos – em que agora se sentirão tão bem e tão vitoriosos. Valha-nos podermos não vê-los.