Este ano, boa parte de nós passámos as festividades afastados da família, mas uns mais do que os outros. Para os 737 militares portugueses colocados no estrangeiro, em 15 missões em quatro continentes diferentes, esta foi uma época desafiante como nunca. Tanto os 176 efetivos no Afeganistão, que garantem a segurança do Aeroporto Internacional Hamid Karzai, como os 76 militares que tentam resgatar o Mali do caos, ou os 249 soldados que protegeram as presidenciais de 27 de dezembro, na República Centro-Africana, tiveram de ver a família e amigos do outro lado de um ecrã, a milhares de quilómetros de distância, enquanto as saudades apertam cada vez mais.
O SOL falou com alguns deles, no Mali e Afeganistão, por videoconferência – não foi possível falar com nenhum na República Centro-Africana, num momento de alerta máximo, logo após a MINUSCA, a missão das Nações Unidas no país, onde estão integrados 191 militares portugueses, enfrentar uma ofensiva rebelde.
Os anjos da guarda de Cabul
Na árida e poeirenta Cabul, coração do frágil Governo afegão, cercada por montanhas e pelo avanço dos talibãs, assolada por cada vez mais ataques do Daesh, tentou-se recriar um pedacinho de Portugal. É que se há coisa que não pode faltar aos militares portugueses na consoada é uma boa posta de bacalhau com todos, regada de azeite, acompanhada de umas rabanadas para sobremesa. Este ano o menu não foi diferente para as tropas colocados no Afeganistão, muito graças aos esforços do capitão Ivo Pereira, comandante do Elemento de Apoio Nacional, responsável pela logística.
«Mesmo tendo em conta as restrições devido à covid, tentou-se providenciar um conjunto de alimentação tradicional de Portugal, para que pelo menos pudéssemos relembrar um bocadinho o Natal, tornar esse dia diferente», explica o capitão, salientando o contributo da ceia «para a moral e bem-estar».
Por ceia, leia-se ceias. Foi uma espécie de Natal prolongado para os militares no Afeganistão, que tiveram de celebrar a consoada à vez, em dias sucessivos – quando falaram com o SOL, no dia 26, já iam para a terceira.
Não só a pandemia tornou arriscado juntar grupos grandes, como os portugueses têm turnos particularmente difíceis de conjugar. A Quick Reaction Force que encabeçam, parte da Resolute Support Mission, da NATO, está encarregue de patrulhar a sua base, onde vivem umas seis mil pessoas, a paredes-meias com um aeroporto civil e instalações militares afegãs, de guardar os hangares e estar pronta para reagir de imediato a qualquer ameaça.
«Para as pessoas dormirem descansadas alguém tem de trabalhar, e esses somos nós. É um papel fulcral dentro deste sistema», diz o major Daniel Gomes, comandante da Quick Reaction Force. «O esforço do dia-a-dia é 24/7. Não sabemos o que é um dia de descanso, é um trabalho com muita responsabilidade».
«É uma tarefa árdua para estes militares. É muito tempo fora de casa, e além de termos em conta as ameaças do costume temos a ameaça invisível que é a covid-19. É uma ameaça que anda entre nós, não o conseguimos ver, temos de o combater com medidas de mitigação, com estas máscaras, tentar não contactar muito com outros elementos, dentro da capacidade operacional».
O que não faltam são desafios, quando se tem de comandar tanta gente com tantas limitações. «Não consigo fazer como se faz na vida militar, formar a tropa e falar para todos. Tenho de organizar reuniões, estabelecer outras ligações com as forças, de maneira a garantir as medidas de mitigação», lamenta Gomes.
Além disso, «o Natal também está a ser diferente», admite. «É o terceiro Natal que passo fora de casa e vejo diferenças, noto que temos de ter mais atenção com os militares, com o pequeno carinho que podemos dar nesta fase que é o Natal».
«Nas minhas experiências passadas, apesar de estarmos sempre a trabalhar, conseguíamos juntar um número maior de pessoas, numa ceia de Natal, sem restrições, podíamos estar sem máscara, falar à vontade, abraçarmo-nos. Agora, podemos fazer pouco mais que isto», diz o major, estendendo o cotovelo. «Nem um aperto de mão conseguimos dar, é complicado».
Já para o tenente Carlos Santos, que comanda um dos pelotões da Quick Reaction Force, é um Natal sem comparação. «Para mim, e para muitos dos meus militares, foi a primeira vez que passámos o Natal fora de casa. É uma experiência nova, tivemos de saber lidar com ela, e para ajudar a tudo isso ainda tivemos de viver com as restrições da covid-19, sem podermos fazer o festejo normal», explica, orgulhoso da sua primeira missão no estrangeiro.
«Vir numa missão, ter sobre o meu comando 46 homens é uma experiência única nos tempos que correm. Foi muito bom, a nível pessoal como profissional, para aprender muita coisa e crescer», garante. A sua unidade ainda teve a benesse de dispor de um pequeno espaço exterior, que lhes permitiu reunirem-se de alguma maneira, trocar presentes e desejos de boas festas, debaixo do frio gelado do inverno afegão. «No futuro vai fazer-nos pensar como é bom estar em casa, no quentinho junto daqueles que amamos. É isso que levamos daqui».
Outros, nem esse pequeno luxo de conviver ao frio tiveram. Houve várias infeções por covid-19 na base da NATO no Aeroporto Internacional Hamid Karzai – nenhuma de portugueses – e vários efetivos viram-se forçados a passar as festas em isolamento, numa área de quarentena.
«A covid-19 atinge toda a gente», salienta o major Gomes. «Temos alguns militares que tocam instrumentos musicais, e nós, os portugueses, na noite de 24, juntamente com alguns camaradas internacionais, dirigimo-nos aos alojamentos de quarentena e ficámos lá fora a cantar algumas músicas internacionais de Natal», conta. «Queríamos aquecer um bocado os corações de quem está isolado».
Até o pelotão turco que integra a Quick Reaction Force quis participar de alguma maneira nas festividades. Apesar de maioritariamente muçulmanos, «olhavam para a nossa árvore de Natal, convidavam-nos para tomar chá, houve umas trocas de prendas. Também sentiram um bocado o que é o calor do Natal», conta Gomes. «Sabem que para nós é importante, que nos dá um sentimento de união, e também quiseram fazer parte», explica. «Não olham para a parte religiosa da festividade em si, mas há uma certa união, o que foi muito interessante para nós».
Calafrios na espinha
Por trás da camaradagem dos militares portugueses, que trabalham de braço dado com dezenas de outras nacionalidades, há a ameaça real da tarefa em mãos.
Como os restantes efetivos da Resolute Support Mission, têm um papel de apoio às forças afegãs – ao defender o Aeroporto Internacional Hamid Karzai, libertam tropas para combater na linha da frente. O risco, atrás dos muros da base, é muito inferior a um destacamento de combate, mas este é um país instável, onde as negociações entre os EUA e os talibãs se arrastam.
Não há grande esperança de vitória e reconstrução aqui. Já é a segunda vez que militares portugueses têm de ser destacados para o Afeganistão, saindo em 2014 e regressando em 2018. A maioria dos analistas está segura que os talibãs varrerão o país mal as forças internacionais retirarem – os portugueses saem até junho de 2021, assegurou o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho. Os talibãs já impuseram um cessar-fogo quanto às forças internacionais, atacando apenas as afegãs, mas o Daesh está à espreita, escalando os atentados na capital nos últimos meses.
«Existe um aumento da tensão, isso tem sido reportado pelos media a nível internacional», admite o tenente-coronel Delfim Fonseca, que executa funções de Estado-maior junto de parceiros internacionais. «Esta questão de viver com inconstância na segurança, chamemos-lhe assim, passou a ser global, encaramos isto com alguma naturalidade».
É difícil imaginar como conseguem fazê-lo. Ainda no início do mês o Daesh reivindicou o disparo de uma dezena de mísseis Katyusha contra o Aeroporto Internacional Hamid Karzai, ao mesmo tempo que lançavam uma barragem de fogo de morteiro sobre Cabul – pelo menos três disparos atingiram o aeroporto, segundo Ministério do Interior afegão, citado pela Associated Press.
«O nosso treino e preparação antes de sermos projetados para este tipo de ambientes fazem-nos encarar isso com – naturalidade talvez não seja a palavra certa, porque nunca é uma situação natural – alguma frieza», diz Fonseca. «Temos tido a sorte de ter reagido bem a situações menos felizes, que já aconteceram e provavelmente irão acontecer no futuro», acrescenta. «Os procedimentos operacionais estão perfeitamente estabelecidos».
Nem podia ser de outra maneira. Se houver alguma ameaça direta à base da NATO, os militares portugueses têm de ser os primeiros a sair e enfrentá-la, correndo para junto dos seus 15 blindados, equipados com o mais recente armamento de guerra.
«Sabemos o que temos de fazer, como nos posicionar. Assim garantimos que cada um dos nossos militares se sente mais confiante e confortável caso aconteça algo. Chega a um ponto em que sei o que quem está ao meu lado vai fazer, como vai reagir, estamos todos treinados da mesma forma», explica o major Gomes. «A nossa missão é mesmo esta, somos uma força de reação rápida. Não planeamos um incidente, acontece e nós reagimos, algo que é fruto de meses de treino e instrução».
Claro que não dá para evitar um arrepio na espinha quando soam alarmes ou se ouvem explosões, o calafrio e suor nervoso. «Isso é normal. A ansiedade, a adrenalina, aumentam num espaço de microsegundos em situações dessas. É algo do ser humano, não há hipótese, sentem-se as coisas de forma diferente», refere o major. «Há preparação psicológica, um trabalho de garantir robustez dos militares. E também temos de olhar para o stresse de forma positiva, conseguir gerir os níveis de stresse para que o corpo reaja, a mente reaja. É por isso que treinamos».
Para os entes queridos em casa, pode ser mais difícil manter a frieza. «Nesse sentido, torna-se até mais complicado para os familiares do que para nós aqui. Porque nós estamos completamente focados nas nossas tarefas e abstraímo-nos um pouco», nota o primeiro-sargento Joaquim Salgueiro, que faz parte do pelotão encarregue de proteger os hangares. «Tentar gerir um pouco, filtrar esse tipo de emoções negativas, manter sentimentos positivos e alegria para os nossos familiares que estão aí em Portugal», é a fórmula do primeiro-sargento. «E, depois, claro, bastante contacto, contactar todos os dias a família. Isso faz muita diferença».
Contudo, nem todos o conseguem fazer. É esse o caso da tenente Raquel Farinha, cuja família vive numa aldeia remota em Castelo Branco, onde a rede é escassa. «Não consigo contactar com a minha família todos os dias, tento contactar mais ou menos uma vez por semana, também para não os deixar preocupados. Se eles nunca sabem em que dia é que eu vou ligar, assim não há falha no compromisso, devido aos horários que faço», conta a tenente, uma das 11 mulheres do contingente português. «Eles não estão aqui para ver aquilo porque nós passamos. Temos de filtrar as coisas para que consigam suportar a tarefa que têm lá, que é aguentar a preocupação por estarmos aqui».
De vigia no ano novo
Se ainda houve alguns momentos de convívio e descanso no Natal, será mais difícil celebrar o ano novo. «Vamos celebrar com trabalho», antevê o major Gomes, entre gargalhadas dos seus camaradas. «Há de haver pessoal a patrulhar, olha para as horas, pronto, já passou a meia-noite». Dará para comer as doze passas e desejar um ano melhor, mas nem sequer haverá um brinde com champanhe.
«Nós aqui não temos álcool, pelas regras que ditam aqui nesta base, já não bebemos desde que saímos de Portugal», refere Gomes. Não porque o Afeganistão seja um país maioritariamente muçulmano, «não há restrições quanto à entrada de álcool, na sociedade afegã consomem álcool», ressalva o tenente-coronel Fonseca. «É uma regra da missão, tem a ver com questões de segurança, comportamentais, porque nem toda a gente bebe da mesma forma. Numa coligação que junta mais de 50 países, com tantas culturas diferentes, isso seria com certeza um foco de problemas e de instabilidade».
«Há aqui um pormenor importante, nós andamos sempre armados», acrescenta o major Gomes. «Mesmo que fosse permitido álcool nesta base, a nossa força tem de estar sempre pronta a reagir. Estamos aqui sentados mas temos sempre aqui a pistola, com munição», salienta. «As outras cinco mil seiscentas e tal pessoas aqui na base olham para nós como os anjos da guarda deles. Não seria essa a melhor postura».
Então, se subitamente soassem os alarmes, os militares portugueses teriam de arrancar de imediato, de arma em punho? «Bem, ficava a falar sozinho», remata o major, entre mais uma onda de gargalhadas.
Reconstruir um Estado no Mali
Do outro lado do planeta, no desértico Mali, a sul das vastas extensões do Sahel, que nenhum Estado controla, onde prosperam senhores da guerra, rebeldes, bandidos, traficantes de droga e armas, jiadistas da Al Qaeda, do Daesh e do Boko Haram, 11 militares portugueses tentam ajudar os malianos a defenderem-se, integrados na EUTM, a missão de treino da União Europeia.
É uma tarefa que se estende da base das forças armadas do Mali até ao topo, ao equivalente ao nosso Estado Maior-General das Forças Armadas, em Bamako. «Por alguma razão foi determinado por mandato da ONU, posteriormente encaminhado para a UE, que viesse para cá uma força. Logo à partida, é um sinal de dificuldades», nota o tenente-coronel João Carvalho, que dá aconselhamento a nível de operações às mais altas instâncias malianas.
«Este Estado sofre de alguma instabilidade. Formando as forças armadas, é uma garantia do reforço da autoridade do Estado, da estabilidade e do combate ao terrorismo, para devolver a paz às populações», considera. «Para começar, as pessoas no Mali vivem com acentuadas dificuldades económicas. Só para ter ideia, o ordenado anual, em média, são 350 euros», refere Carvalho.
«Depois há uma grande diversidade social, com predomínio religioso, associado a muitos conflitos étnicos. E, além disso, há a presença de terrorismo. A tudo isto juntamos uma certa instabilidade política, que só começou a desvanecer-se com os últimos acordos».
Com instabilidade política, o militar refere-se ao golpe de Estado que derrubou o Presidente Ibrahim Keïta, em agosto, após meses de protestos massivos contra a corrupção, a quebra económica e o desaparecimento de vários dos seus opositores políticos. No meio deste caos, Carvalho e os seus camaradas não tiveram o trabalho nada facilitado. «Com a nossa ação vamos tentando acautelar ou guiar da melhor maneira possível o funcionamento da cúpula das forças armadas», afirma.
Entretanto, os portugueses vão tentando fortalecer a estrutura dos militares malianos, por exemplo a nível de doutrina. Doutrina, no sentido de conceitos e princípios básicos de operações e organização.
«O que faço é ajudar a identificar necessidades de doutrina, ou capacidades que queiram adquirir num futuro próximo e criar doutrina para isso», explica o tenente-coronel Vasco Carriço, responsável por esta parte da missão. «Por exemplo, se quisessem criar uma unidade de UAV [drones], seria necessário criar uma doutrina para os usar. Ou podemos identificar material que eles têm e criar doutrina para o seu emprego», exemplifica Carriço.
«Depois de ter uma doutrina feita e aprovada, quando não existe capacidade financeira, nós tentamos arranjar um país patrocinador», continua o tenente-coronel. Os materiais que produzir irão parar a escolas militares por todo o Mali, podem até acabar nas mãos de outros militares portugueses, como aqueles que estão encarregues do treino das forças malianas no terreno, ensinando tiro, estratégia ou ensaiando operações em Koulikoro, a uns 60 quilómetros da capital.
Ganhar com a experiência
Para o capitão Vasco Nunes e o primeiro-sargento David Viegas, quando recebem mais uma leva de oficiais malianos a quem dar instrução, na escola de treino de Koulikoro, a sensação é de que ambos os lados têm algo a ganhar com a experiência.
«Os militares a quem estamos a dar formação não são recrutas», faz questão de salientar Nunes, soando orgulhoso destes homens. «São militares com elevada experiência, que já estiveram em situações muito, muito complicadas. Estamos aqui para os apoiar, não só na formação, mas trazer-lhes a formação mais atual no mundo, em termos de técnicas, táticas e procedimentos, e tentar adaptar à realidade deles».
«Essa adaptação é muito gratificante, muito bom para nós, porque obriga-nos a puxar pela cabeça», concorda Viegas. «Não é fácil dar instrução quando por vezes faltam certos equipamentos, a que eles não têm acesso. Temos de arranjar artimanhas para aproveitarem a instrução. E depois há a questão das condições climatéricas. Treinar homens debaixo de tanto calor não é a mesma coisa que estar em Portugal a treinar os nossos homens».
Aquilo que ensinam, defesa de base, aeronaves e tripulações, seria essencial em qualquer teatro de operações. Mas particularmente no vasto Mali, onde as estradas são péssimas e perigosas, e tantas operações dependem de transporte por helicóptero, sobretudo no norte, onde operam terroristas. A MINUSMA, a missão das Nações Unidas no país, tem a infeliz distinção de ser a mais mortífera missão da manutenção da paz no ativo, com mais de duzentos capacetes azuis abatidos.
«O Mali tem bases bastante vulneráveis, com carência de proteção. E se o nosso avião está a voar em missões, tem de haver um aumento da segurança quando aterra», explica Viegas. As técnicas que estes portugueses ensinam «permitem dispor um conjunto de homens, de várias formas e feitios, com várias capacidades técnicas, para que eles sejam autónomos e resolver possíveis ameaças a uma base, são treinos específicos».
Os desafios que os seus instruendos enfrentam, após saírem de Koulikoro, só têm aumentado nos últimos anos. Os vários grupos jiadistas têm aumentado as suas capacidades e coordenação, atacando várias bases em simultâneo, para atrasar o socorro, conjugando ofensivas convencionais com bombistas suicidas.
«Quando pensamos em formação, pensamos só no nosso lado. Mas do outro lado também há formação. De âmbito diferente, com objetivos diferentes, mas é formação», lembra Nunes. «Há cada vez mais sofisticação e acesso a informação. Isso joga a nosso favor, mas também do inimigo. O objetivo é estarmos sempre um passo à frente da ameaça».
Uma família diferente
Apesar de Nunes e Viegas estarem tão distantes da linha da frente, numa base segura e recheada de militares, é sempre difícil conter a preocupação das famílias, lá ao longe, em Portugal.
«Quando pensamos no que é mais importante para nós, o que salta à cabeça é família», assegura o capitão. «Tenho a certeza que a minha família está preocupadíssima por estar aqui. Mas eu estou aqui e estou preocupadíssimo com eles também, é recíproco».
À falta de melhor, as tecnologias ajudam a manter o contacto, mas não é a mesma coisa, sobretudo nesta altura das festas. «É sempre complicado quando estamos afastados daqueles de quem mais nós gostamos», lamente Nunes. «Mas temos aqui um espírito de camaradagem, todos estamos a passar pelo mesmo e, de alguma forma, apoiamo-nos uns aos outros, acabamos por passar bem».
«Fizemos aqui a nossa celebração, e, como em qualquer parte do mundo, o português desenrasca-se sempre e há de ter sempre uma festa à sua maneira», acrescenta Viegas. «Conseguimos ter alguns produtos portugueses, o bacalhau, as couves, foi um dia bem passado. Somos um grupo pequeno, facilmente nos juntamos num canto qualquer, desde que nos deem um fogão e umas colheres tudo se faz».
«No ano novo vamos estar todos juntos, à semelhança do Natal, mas vai acabar por ser mais um dia. Com regras e cuidados, dá para comer, beber, rir, conversar com camaradas de outros países. O tempo passa e quando dermos por isso estamos em janeiro. Havemos de fazer um brinde, caso o senhor capitão deixe beber», prevê o primeiro-sargento, rindo e olhando para o capitão, seu camarada há quase uma década, em várias operações internacionais. «Temos que brinde para que 2021 seja muito melhor que 2020», ordena o capitão, rindo também. «É obrigatório o brinde».