Por Judite de Sousa
Na última semana, o país político seguiu os debates presidenciais. Duvido que o país real tenha acompanhado com interesse os confrontos dos candidatos. Tratando-se de eleições presidenciais, a tentação é fixar as ideias programáticas dos partidos que apoiam os candidatos e não discutir os poderes do presidente e exercidos no conteúdo e na forma.
Deste ponto de vista os debates são bizarros. Poderiam ser replicados para eleições legislativas e os resultados seriam praticamente os mesmos. O exercício é ainda mais difícil quando é dado como certo que Marcelo Rebelo de Sousa será tranquilamente eleito à primeira volta. Ou seja, os debates pouco interferem nos resultados finais. Os portugueses já decidiram o seu voto, o que não significa que algumas dúvidas subsistam. Primeiro: qual será a dimensão da vitória de Marcelo; quem ficará em segundo: Ana Gomes ou André Ventura; a votação de Marisa Matias que há cinco anos superou todas as expectativas.
Há nestas eleições elementos que nos irão dar sinais sobre uma futura composição do Parlamento. Irá Ventura levar o Chega a terceira força política? Até que ponto Ana Gomes irá ter a seu lado uma expressiva ou residual votação no campo socialista? E da parte do PSD, qual será a tolerância dos eleitores ao atual Presidente, olhado com desconfiança por alguns setores social-democratas que acusam desconforto pela coabitação bem sucedida entre Marcelo e Costa. Será que estes votos irão para a abstenção ou para o Chega? São perguntas que nos irão permitir perceber o atual xadrez político entre o que se mantém e o que muda. Uma coisa é certa: os debates são um ritual da democracia televisiva e revelam como os candidatos se posicionam frente às câmaras com a sua capacidade argumentativa, seguranças e inseguranças. Nesta linha de análise, há dois vencedores: Marcelo e Ventura, obviamente por razões diferentes. O primeiro mantém o seu estatuto presidencial e dele não se afasta um milímetro; o segundo ganha mais visibilidade com o pensamento no alargamento do seu espaço político.