O nevão que a tempestade Filomena deixou para trás paralisou boa parte de Espanha, causando pelo menos quatro mortos, soterrando de tal maneira a capital, com uns 30 a 45 cm de neve, que se tornou impossível distinguir a estradas do passeio, este domingo. Apesar dos apelos das autoridades para que os madrilenos ficassem em casa, muitos não resistiram a sair à rua para observar o raro cenário, que incluiu coisas tão insólitas como a passagem de trenós de cães, polícias a intervir em lutas de bolas de neve com dezenas de pessoas, devido ao risco da covid-19, ou esquiadores a divertirem-se nas icónicas Puertas Del Sol.
Outros terão ficado menos encantados, em particular os cerca de 1500 espanhóis que foram surpreendidos dentro dos seus carros. Ficaram horas soterrados debaixo da neve, alguns durante toda a noite de sexta-feira, arriscando a queda súbita de uma árvore, em longas filas de trânsito congelado que se estendiam pela Comunidade de Madrid – foram todos resgatados em segurança, assegurou o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, ao El País.
Para os trabalhadores com funções essenciais que tiveram de ir trabalhar este fim de semana, o nevão foi uma dificuldade adicional. Médicos e enfermeiros tiveram de caminhar dezenas de quilómetros de volta às linhas da frente da pandemia, perante um frio cortante, debaixo do pior nevão em meio século, por vezes auxiliados por bastões e skis.
Com uns 20 mil quilómetros de estrada cortados por todo o país e dezenas de comunidades em estado de alerta, o Governo espanhol viu-se obrigado a enviar caravanas com alimentos e vacinas da covid-19 para regiões isoladas, apoiadas pela polícia. Entretanto, os termómetros vão continuar a baixar em Espanha, ultrapassando os 10 ºC negativos a partir de segunda-feira, sendo esperado que neve se mantenha nas ruas da capital mais uma semana, no começo de um ano que promete ser tão bizarro como o anterior.