Mais de uma ano depois de um novo coronavírus ser detetado em Wuhan, e rastreado até um mercado de animais vivos, uma equipa da Organização Mundial de Saúde (OMS) conseguiu entrar na cidade para investigar o caso. Entretanto já morreram mais de dois milhões de pessoas devido ao vírus, que seria a ser apelidado de covid-19, mas mesmo agora as autoridades chinesas continuam a impor entraves à investigação.
No último minuto, após protelar sucessivamente a entrada de investigadores no país, recorrendo a manobras políticas ou bloqueios de vistos, Pequim decidiu que a equipa da OMS teria de ficar duas semanas de quarentena em Wuhan, revelou esta sexta-feira a agência das Nações Unidas. E dois dos seus cientistas tiveram de ficar em terra, em Singapura, por darem positivo num teste de anticorpos – não significa que tenham o vírus, apenas que estiveram em contacto com ele em algum momento.
É sabido que o autoritário regime chinês não fã de escrutínio internacional. Além disso, uma investigação aprofundada à origem da covid-19 – uma equipa da OMS esteve no país em julho, mas não conseguiu autorização para entrar em Wuhan, e não se soube nada dos seus resultados – pode minar a narrativa de que o vírus teria tido origem noutro país que não a China, algo que Pequim desesperadamente tenta fazer a sua população acreditar.
Nos últimos meses, multiplicaram-se as notícias na imprensa estatal sobre contágio através de bens congelados vindos do estrangeiro – onde se lê que terá sido um dos meios da importação inicial da covid-19 na China – e a população está em pânico quanto a tudo o que venha de fora do país.
Aliás, a equipa da OMS teve de sair do terminal do aeroporto de Wuhan atrás de um túnel de plástico, onde se lia «prevenção de passagem epidémica», entrando num autocarro escoltada por dezenas de seguranças equipados com equipamento de proteção.
As consequências do bloquear da investigação à origem da pandemia podem ir muito para lá das tensões políticas, alertou um artigo no American Journal of Tropical Medicine and Hygiene. «Enquanto enfrentamos o aumento das mortes e perturbações sociais da covid-19, não perdemos de vista como é que esta pandemia começou, como e porque é que passámos ao lado dos avisos. E o que podemos fazer para impedir que aconteça outra vez».