Vejo por aí muita gente a protestar contra o novo confinamento, com o estado em que a economia vai ficar, com a perda de negócios e de empregos. Acham isto um exagero, um absurdo, e comparam os números com os de outros anos ou de outros países que tomaram medidas diferentes ou não tomaram medidas de todo.
Mas de quem é, afinal, a culpa? Bom, em primeiro lugar do vírus, naturalmente. Mas, logo de seguida, parece ser dessas mesmas pessoas que protestam contra o exagero e que teimam em fazer a sua vida como se nada se passasse. Quantas já vi a protestar contra as regras quando são chamadas à atenção para colocar a máscara, para se afastarem das outras, quando andam com a máscara por baixo do nariz ou se juntam para almoçar como antigamente.
Como se vê bem agora, o presente oferecido pelo Governo antes do Natal estava totalmente envenenado. Podíamos pensar que o tinha feito partindo do princípio de que as pessoas eram suficientemente conscientes para tomarem as medidas necessárias, evitando, por exemplo, juntar famílias inteiras sem máscara em casas fechadas. Mas se acreditavam realmente na consciência das pessoas, porque tinham tomado até então medidas que limitavam a liberdade, como o confinamento aos fins de semana a partir das 13h? Seria o espírito natalício que iria tornar toda a gente responsável de um momento para o outro? E porque passaram a mensagem de que os números já nos permitiam ter um Natal em liberdade?
Seria esperado que os portugueses não precisassem de multas e regras para adotarem comportamentos seguros mas, infelizmente, não é isso que acontece. E também não podemos um dia tratar todos como crianças, com regras e punições, e no dia seguinte partir do princípio de que já não precisam de limites. Como dizia uma amiga, os pais têm de saber os filhos que têm.
Diria, portanto, que há vários tipos de pessoas que, inadvertidamente, nos conduziram a este novo confinamento: as que, ingenuamente, têm dificuldade em acatar a informação; aquelas que se julgam mais espertas do que as outras; as que estão cansadas de obedecer e sedentas de proximidade; as que tendem a relativizar; e as que têm prazer em fintar a autoridade e não gostam de ser controladas. Do Governo esperava-se, no mínimo, coerência. Porque com as decisões que tomou para o Natal e passagem de ano, juntou a todas estas pessoas aquelas que se guiam por ele e que podiam ter agido de maneira diferente mas, sabendo do alívio das regras, acreditaram que não fazia mal e passaram um Natal à antiga.
O melhor é ter mais um bocadinho – ou mesmo um bocadão – de paciência. A que for preciso.