por Pedro Antunes
Empresário
Sim, Marcelo perdeu. Não há volta a dar ao resultado de ontem. Marcelo pode ter ganho as eleições, mas não foi mais do que uma vitória de Pirro.
Marcelo perdeu. Não conseguiu a eleição apoteótica ao estilo de Mário Soares, que teve mais um milhão de votos do que Marcelo. Marcelo perdeu. Mesmo com a pandemia, nestas eleições votaram menos 500 mil pessoas do que em 2016(1). Marcelo perdeu porque não mobilizou.
Marcelo já tinha perdido: incêndios, SEF, Tancos… tanto caso sem impacto no governo, com poucas ou nenhumas palavras, mas com muitas marcelfies.
Marcelo já tinha perdido. Tinha perdido quando aprovou o primeiro Estado de Emergência, com um fraseamento demasiado subjetivo, permitindo poderes excessivos ao Governo. Marcelo perdeu quando, em vez de confiar nos cidadãos, criou as condições para limitar as liberdades individuais dos portugueses. Isto num país pós-fascista que ainda se devia lembrar do que significam abusos do Estado.
Marcelo já tinha perdido. Tinha perdido o país para uma política de medo e de denúncias, na qual a Polícia de Segurança Pública apela a denúncias sem que isso seja criticado. Isto num país pós-fascista. Como se não soubéssemos que este tipo de apelos apenas leva a abusos de autoridade e mentiras para ganhos pessoais.
Mas a maior derrota ainda não está assim tão presente. Marcelo ganhou as eleições, mas daqui a cinco anos deverá estar a presidir ao país mais pobre da UE. Marcelo perdeu, infelizmente, porque o país também. Nada muda no empobrecimento do país.
Marcelo Rebelo de Sousa vai ficar para a história como um presidente que nada fez para evitar o declínio social e económico do país. Pior, vai ficar para a história como o presidente que permitiu, pela primeira vez desde o 25 de Abril, uma redução incoerente das liberdades individuais dos portugueses.
Mas por muito que Marcelo queira, nem tudo ontem andou à volta dele e da sua “vitória” sem surpresas.
Ontem também perdeu Ana Gomes. A sua colagem ao pedronunismo não colheu frutos. Podem deixar de tremer as pernas aos eleitores do PS mais moderado, pelo menos por agora. A ver como fica a guerra pela sucessão de Costa no partido.
A extrema-esquerda bloquista e comunista também se viu derrotada. Nem juntos conseguiram bater Ventura. Entre as partes Ventura ganhou o campeonato do populismo de extremas. Ventura perdeu a luta pelo segundo lugar, mas bater Marisa Matias e João Ferreira permite-lhe gritar “vitória”.
Outra forte derrota foi a de João Ferreira. Mostra o estertor da morte do PCP. Nem com um candidato jovem, bem-apessoado e com algum reconhecimento nacional conseguiram igualar o resultado de 2016. Serão os anos finais do PCP.
E quem ganhou?
Bom, numa análise mais cínica ganhou António Costa. Foi o seu candidato. Foi a sua lógica do “está tudo bem” e do “a culpa é do Passos ou do Portugueses”. Terá mais 3 anos de mandato relativamente descansados… porque eu não acredito que Marcelo mude muito de atitude.
Numa análise mais sonhadora, Tiago Mayan duplica o voto liberal no espaço de um ano. É um resultado muito respeitável e mostra que é possível criar uma base eleitoral liberal, sem recorrer a populismos excessivos. Com alguma cautela diria que a onda liberal está aqui para ficar.
PS: O facto de só me ter lembrado do CDS e do PSD no post script acho que diz tudo sobre se ganharam ou perderam, nestas eleições.
(1) Este valor toma em conta os eleitores inscritos no território nacional apenas, dado que o processo de votação no estrangeiro é ineficaz e incentiva a abstenção em massa.