Por António Rosas
Encerrado o período eleitoral é mais ao menos generalizada a desilusão dos eleitores para com a campanha, os debates e, logicamente, os candidatos.
De uma forma geral, as pessoas pensam que poderia ter existido mais alguma coisa, mesmo as que não conseguem explicar ao certo o quê.
Acredito que se hoje fosse feito um inquérito a todos os que votaram nesta eleição, mais de 80% não conseguia dar o exemplo de uma ideia defendida por cada candidato presente no boletim. Confesso, desde já, que apesar de ter assistido a praticamente todos os debates, me enquadraria perfeitamente na fatia maior desta estatística.
Se o Presidente da República é o mais alto representante de Portugal no mundo, tem de ter a consciência que vivemos num mundo em mudança e que para assumir um cargo desta importância não basta apenas ter uma figura institucional.
E foi neste novo mundo do Blockchain, das criptomoedas, da transição energética, onde a biotecnologia nos brinda com descobertas incríveis todos os dias e onde já se conseguem criar bebés imunes ao cancro, que toda esta campanha se desenrolou.
Foi neste país onde se trabalham tantas horas por dia para tão baixa produtividade, onde os jovens não se conseguem emancipar e os mais velhos não têm o mínimo de qualidade de vida, foi neste país que continua entre os mais pobres da Europa que todos estes debates aconteceram, e muito pouco sobre estes temas esteve em cima da mesa.
Qual é o papel de Portugal no mundo? Foi a pergunta que todos os candidatos a chefe de estado deixaram por responder, mostrando, assim, o seu desleixo no tópico da geopolítica que nos dias de hoje é considerado o maior desafio para um Presidente da República.
A conclusão mais triste que tirei desta eleição foi o facto de esta ter provado que é possível fazer política distanciada do campo das ideias. Aliás, provou de forma clara que quanto menos ideias o candidato expuser, menor será a probabilidade de alguém discordar de si, o que num país onde uma grande maioria ainda vota por exclusão de partes, faz rapidamente da não discordância o ouro da neopolítica.
Com isto podemos concluir, sem sombra de dúvidas, que a melhor estratégia de comunicação política nos dias de hoje é a mera constatação de óbvio, pois só essa produz a tão almejada não discordância. Todos os que se afastarem dessa linha de retórica serão atirados ao abismo da opinião pública e do risco de discordância, e se outrora era esse o espaço onde se mostravam os melhores políticos, nos dias de hoje, não passa de uma armadilha onde apenas caem os politicamente iletrados.
Foram também muitos os que constaram o perigo do populismo e dos extremos, mas são poucos os que constatam a incompetência que temos revelado a combatê-los e praticamente inexistentes os que interpretam este fenómeno como a fatura a pagar pela fuga das ideias do panorama político nacional.
As várias tentativas usadas até hoje para travar esses movimentos do “mal”, apenas serviram para dar mais visibilidade aos mesmos. Isto porque a sociedade civil do “bem” ainda não entendeu que não pode ser um dos extremos a puxar as orelhas ao outro.
Alguns agentes políticos ainda não perceberam que a política não é política quando tentamos analisá-la como sendo uma história de bons e maus, isto porque na maioria das vezes o rótulo de “mau” vindo de uns é a aprovação mediática que outros precisavam.
Concluindo, as ideias estão de uma forma geral fora de moda, sem espaço nesta neopolítica, esperamos então dias melhores na ressaca de uma eleição em que o vencedor foi o vazio.