As paragens do rastreio do cancro da mama, durante três meses em Lisboa e seis meses na região do Norte, e dos rastreios dos tumores do colo do útero e do colorretal terem estado “praticamente parados”, causaram um atraso no diagnóstico de “mais de um milhar de cancros, neste momento”, assume o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), Vitor Rodrigues à agência Lusa.
Esta situação pode afetar “a médio e a longo prazo” a “diminuição da sobrevida global”, que já estava a progredir gradualmente, tal como a “qualidade de vida porque os cancros eram diagnosticados mais cedo”, admitiu.
O Dia Mundial do Cancro assinala-se no dia 4 de fevereiro, e para este ano, a celebração vai ficar marcada pelos retrocessos em relação aos rastreios e à prevenção da saúde dos portugueses, “estas conquistas foram muito abaladas e a longo prazo vamos ter uma situação má, isto é, diagnósticos menos precoces, maior metastização e, portanto, maior mortalidade", lamentou o presidente da LPCC ao dizer que no espaço de um a três anos vamos começar a assistir a esta situação.
O presidente do Núcleo da Região Norte da LPCC, Vitor Veloso, confirma estas declarações e afirma, que nos dias que correm, vive-se “uma situação dramática em relação ao cancro", porque são tomadas "poucas medidas" relativamente a estes doentes, mas também a outras doenças crónicas.
"A verdade é que não há referenciações de cancro para o instituto de oncologia na medida em que os médicos de família estão neste momento a tratar da covid-19 e na prática não há consultas de médicos de família, consequentemente estas pessoas não têm acesso a qualquer tipo de exame de diagnóstico", explicou Vítor Veloso à agência Lusa.
Ou seja, "não são referenciados e se forem demoram muito mais tempo na medida em que normalmente os IPO estão sobrecarregados", sublinha.
Desde o início da pandemia, segundo os IPO, houve uma diminuição da referenciação de novos doentes de cerca de 20% a 25%, adicionou o presidente nacional da LPCC, Vitor Rodrigues.
Contudo, os rastreios que estão a começar agora são em menor quantidade devido às medidas sanitárias a cumprir, o que leva a referenciação a ser feita “a um ritmo mais lento”, disse Vitor Veloso, considerando que "isso representa uma sobrecarga, nomeadamente para o IPO de Lisboa, que já anteriormente tinha uma lista de espera que vai engrossar".
"Por outro lado, toda esta capacidade diminui cada vez mais porque há muitas situações que foram retiradas ao IPO e foram ativadas ao combate à pandemia e, portanto, os tratamentos também demoram um pouco mais, nomeadamente a cirurgia, radioterapia e a quimioterapia", assinalou.
O presidente do Núcleo da Região Norte admitiu que já têm “inúmeras queixas” de doentes nestas situações.
"Temos uma diminuição do diagnóstico precoce, temos uma diminuição do diagnóstico clínico", admitiu o presidente da LPCC. Porém, "há alguma manutenção apreciável nos IPO que neste momento estão a receber doentes de todos os centros hospitalares e são muitos doentes a entrar pela mesma porta, o que cria muitos problemas".
“Infelizmente”, com o agravamento da pandemia, Vitor Rodrigues diz que todos se sentem “com as mãos, os pés e pernas atadas”.
"É evidente que errar é mau, mas errar não é o pior. É pior ainda uma pessoa não aprender com os erros. Portanto, que as coisas sejam preparadas, planeadas, para daqui a um, dois meses, termos as coisas organizadas para acudir àqueles que neste momento estão a ficar para trás", avisou o presidente da LPCC.