A pandemia não só tem consequências diretas na saúde física, como também na saúde mental dos portugueses. Esse impacto fará eco mesmo depois do final do cenário precário atual passar e, apesar de isso não ser muito positivo, não deve ser um fator de stress acrescido. Nem sempre é um problema existirem problemas.
Circunstâncias complicadas obrigam a medidas extremas e, na ausência de maiores cuidados individuais, é necessário confinamento e distanciamento social.
É hoje mais difícil mimar os nossos mais velhos e conviver com os amigos e colegas de trabalho, por uma série de razões que todos conhecemos. O novo paradigma trouxe mais stress e ansiedade na medida em que reina instabilidade financeira, laboral, escolar, familiar e de saúde, que nos acrescenta preocupações e razões para preocupação e reflexão.
Como se não bastasse, fruto do maior espaço de tempo que passamos sós com os nossos pensamentos, é possível contemplar que está enraizado nas nossas mentes um problema em existirem desafios e conflitos nas nossas vidas. Tal manifesta-se na medida de uma necessidade em termos sempre uma resposta imediata a um problema, procurarmos solução fácil e estarmos inquietos enquanto não o conseguimos. Sou da opinião de que a forma como a nossa formação, educação e avaliação de competências, via sala de aula, está estruturada promove comportamentos pouco práticos para a superação dos desafios do dia-a-dia.
Ao contrário dos problemas de matemática, uma parte dos problemas que nos surgem na vida não têm uma resposta imediata, exigem algum tempo para que possam ser resolvidos, e mesmo assim podem não ter uma ‘resposta certa’ ou independência de terceiros. A sua resolução é um processo contínuo que demora tempo e requer trabalho. Por esses motivos, o desempenho efetivo de um qualquer indivíduo perante uma qualquer circunstância também deveria de basear-se na sua capacidade de resiliência perante uma dificuldade, incentivando a tentativa de resposta, mesmo que seja incompleta.
Por isso espero que nem tudo volte ao normal, porque nem tudo o que era ‘normal’ estava a funcionar. A sociedade deve reformar a estrutura de ensino e formação. Não se trata apenas de adaptar as aulas permitindo o seu funcionamento online, ou de trabalhar a partir de casa. Trata-se sim de incutir nas próximas gerações a capacidade de lidar frontalmente com as dificuldades, oferecendo-lhes ferramentas para que ultrapassem os vários desafios que compõem a vida, sem que se sintam forçados a saber a resposta certa instantaneamente.
Procurar resultados imediatos é ilusório, traz soluções efémeras e é essencialmente um grande fator de stress desnecessário. Não existe um verdadeiro problema em existirem problemas na nossa vida. Não há nada de errado em atravessarmos momentos mais complicados. Não temos de estar constantemente felizes, nem satisfeitos, nem esclarecidos, e achar o contrário é um grande fator de stress e ansiedade.