As famílias das primeiras vítimas da covid-19 estão a ser pressionadas pelas autoridades chinesas para não entrarem em contacto com os doze especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS), que chegaram há duas semanas a Wuhan, na China, onde há mais de um ano surgiu o novo coronavírus.
A equipa da OMS esteve a cumprir um período de quarentena de duas semanas e prepara-se para começar, na quinta-feira, uma investigação sobre a origem do vírus SARS-CoV-2. No entanto, o Governo chinês defende que a pandemia não teve início na China e os familiares das primeiras vítimas acusam o regime de tentar dissuadi-los de entrar em contacto com os especialistas. A pressão terá aumentado após a chegada da equipa da OMS, denunciam, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
No ano passado, as famílias tentaram ir a tribunal para exigir compensações às autoridades por encobrirem informações sobre a covid-19, mas as queixas foram rejeitadas. Há dez dias, um grupo de discussão na aplicação de mensagens WeChat – do qual fazem parte quase uma centena de familiares das vítimas – foi bloqueado. “Quando a OMS chegou a Wuhan, [o grupo] foi bloqueado. Como resultado, perdemos o contacto com muitos membros. Isto mostra que [as autoridades] estão muito nervosas. Temem que as famílias entrem em contacto com especialistas da OMS”, disse à AFP, Zhang Hai, um dos familiares, cujo pai morreu no início do ano.
À AFP, uma mulher, cujo filha morreu em janeiro de 2020, afirma que foi aconselhada pelas autoridades a não "falar com a imprensa". “Depois disto, vieram a minha casa e deram-me 5.000 yuan (640 euros) como condolências”, disse.
Em Wuhan, morreram, segundo as autoridades, 3.900 pessoas. No total, a China conta com cerca de 90 mil infetados desde o início da pandemia 4.600 mortes. No entanto, os familiares das vítimas duvidam dos números oficiais, dizendo que muitas mortes ocorreram antes que pudessem ser identificadas como doentes infetados.