O Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) está a fazer uma investigação interna a um médico da instituição depois de este ter afirmado que os homens homossexuais estão proibidos de dar sangue. "Esta não é a posição do IPST", garante o instituto à agência Lusa.
"Este critério não é nacional. É internacional. Muitos dos países da Europa e do mundo têm essa regra para defesa da saúde do doente que recebe a unidade de sangue", esclareceu o médico de saúde pública, Luís Negrão, à agência Lusa.
O médico assinala que "90% dos casos de VIH positivos [identificados] nas dádivas de sangue são de homens que têm sexo com homens e que o omitiram na triagem clínica".
A investigação deve-se à denuncia de Bruno Gomes de Almeida, que, no passado sábado, depois de ter estado três horas na fila e ainda mais uma de espera na triagem, no posto fixo de doação do ISPT em Lisboa, foi discriminado pelo médico quando disse que tinha um parceiro e não uma parceira.
Após esta resposta, o médico terá dito: "então não pode doar sangue", e ainda terá acrescentado que "homens que fazem sexo com homens não podem doar sangue".
Confrontado pela agência Lusa, o instituto disse que "não questiona a orientação sexual dos seus potenciais dadores" e que "todo e qualquer cidadão [pode] candidatar-se a dar sangue, sem quaisquer diferenças de género ou orientação sexual".
"Se não forem referidos comportamentos considerados de risco, nem no consentimento informado nem na triagem clínica, o dador é aceite para a dádiva", adiantou o organismo, acrescentando que "na sequência de reclamações apresentadas, procede internamente ao esclarecimento das decisões tomadas pelos profissionais".
Recorde-se que em 2016 foi definido o fim da proibição das doações de sangue por homens que têm relações sexuais com parceiros do mesmo sexo, através de uma norma da Direção-Geral da Saúde, o que resultou na demissão do então presidente do instituto Hélder Trindade, que, na altura, afirmou ter razões pessoais para abdicar do cargo.
Brevemente, serão divulgadas as conclusões de um relatório técnico iniciado em 2019 e produzido pelo IPST sobre o impacto da alteração do critério de suspensão do dador, no caso dos homens que têm relações sexuais com outros homens.