Todas estas medidas que originaram um novo confinamento em Portugal, que tem de ser feito sem tréguas por todos, para que possamos vencer este vírus que anda a infetar cerca de 14 mil pessoas e a matar 200 numa base diária, devido às ordens nefastas de ‘festejarmos’ o natal e também o ano novo até às 11 da noite, levam agora a que milhares de mulheres e crianças estejam a viver a sua outra pandemia, como diz António Guterres, Secretário-geral das Nações Unidas, a «pandemia na sombra». Pandemia essa que se chama: violência doméstica! «A ONU estima que 87 mil mulheres tenham sido assassinadas intencionalmente em todo o mundo, e 50 mil mortas às mãos de familiares ou do marido, segundo os dados mais recentes de que dispõe, reportados a 2017. À escala mundial, calcula-se que 35% das mulheres já tenham sido alvo de alguma violência física ou sexual, dados que não incluem o assédio e que, segundo alguns estudos nacionais, poderão atingir o dobro (70%)».
Bem sabemos que as mulheres não têm meios de proteção, a não ser uma aplicação ainda maltrapilha e botão cata ventos para se protegerem contra ameaças de morte, contra pistolas e facas, contra ataques de assassinos. Enquanto temos um maior isolamento que está a contribuir para o aumento de casos, muitos deles não reportados, milhares de crianças e mulheres estão em permanente risco. Podiam até ser conclusões minhas, mas foram conclusões «de um estudo desenvolvido pela Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa.
Quinze por cento dos inquiridos revelaram ter sido alvo de violência psicológica, sexual ou física, dentro da própria casa.
Este projeto, que analisou o período entre abril e outubro do ano passado, também constatou que mais de um terço das vítimas sofreu violência doméstica pela primeira vez na vida».
Já para não falar que apesar de dizerem que mais medidas são impostas aos agressores, eu vejo casos graves e medidas, vejo nenhumas. A verdade é que as crianças que assistem a estes casos tenebrosos ainda não adquiriram o seu estatuto de vítima, temos assim um acumular de ‘vítimas’ sem serem por assim dizer consideradas com sequelas físicas e psicológicas profundas, algo que já poderia estar a ser evitado. Por outro lado, as penas continuam a basear-se na suspensão, dando ao arguido a ideia de impunidade por parte dos tribunais, desvalorizando o seu próprio crime. A ONU apelida-a como a «pandemia na sombra», uma crise «sem precedentes» de violência contra as mulheres, que não está a receber «a mínima atenção» face à que se presta à emergência sanitária.
E agora confinadas, as vítimas só tem uma solução, correr para dentro as esquadras, se forem agredidas, se sentirem que a sua vida está em perigo! Se não for uma pandemia a matá-las é certamente a outra!