“Não basta a demissão dessa gente sem sentido de Estado. Há que responsabilizá-la criminalmente e já”

“Não pactuamos com vacinações ao arrepio da programação oficial e feitas por alvedrio de altos dirigentes da Administração Pública”, escreveu o antigo magistrado.

"Tenho 90 anos feitos, graças a Deus sem grandes mazelas mas com a fragilidade natural da idade, sou casado com uma mulher com mais de 60 anos que sofre de uma doença grave doença pulmonar obstrutiva crónica, que a obrigou a aposentar-se por incapacidade da função pública, e ambos temos esperado com paciência pela vacinação inicialmente planificada", começou por desabafar José Marques Vidal, de 90 anos – foi magistrado do Ministério Público nas comarcas de Arouca, Ovar e Porto e juiz de direito nas comarcas da Moimenta da Beira e São Pedro do Sul – na sua conta de Facebook.

"Assistimos e aplaudimos a vacinação do pessoal médico, de enfermagem e auxiliar dos hospitais, bem como de elementos ligados directa ou indirectamente ao combate à pandemia, susceptível de ser contaminado no exercício dessas funções, torcemos o nariz à alteração dos critérios relativos à vacinação indiscriminada de políticos, mas não pactuamos com vacinações ao arrepio da programação oficial e feitas por alvedrio de altos dirigentes da Administração Pública", continuou o antigo procurador da República em Viseu, de onde transitou para a Procuradoria-Geral da República, em Lisboa, concluindo: "Não basta a demissão dessa gente sem sentido de Estado. Há que responsabilizá-la criminalmente e já".

É de realçar que o idoso, pai da antiga Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, ocupou também os cargos de auditor jurídico em vários ministérios, membro do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral, membro eleito do Conselho Superior do Ministério Público e vice-procurador geral. Exerceu igualmente as funções de secretário geral do Ministério da Justiça, de director geral da Justiça e director geral da Polícia Judiciária, ocupando este último cargo durante seis anos. Em 1996 jubilou-se como juiz do Supremo Tribunal Administrativo.

Recorde-se que, ao contrário daquilo que tem sido feito na maioria dos países europeus, o Plano de Vacinação português contra o novo coronavírus não inclui, na primeira fase, os idosos acima dos 75/80 anos. O anúncio de que o plano estava a ser trabalhado para incluir os idosos como mais de 75/80 anos foi feito, este sábado, pela ministra da Saúde, Marta Temido, depois de uma reunião com a Task Force. Em declarações aos jornalistas, a dirigente esclareceu que o "Ministério da Saúde e as suas estruturas estão a trabalhar na atualização do plano de vacinação, prevendo-se que no decurso desta semana esta atualização seja efetuada, de forma a termos este novo grupo [pessoas com mais de 80 anos] que acresce aos que já estavam definidos".