A sucessão de casos de irregularidades na toma de vacinas contra a covid-19 tem dominado a agenda mediática. Assim, o Ministério da Saúde decidiu emitir uma nota oficial relembrando que a “utilização indevida das vacinas contra a COVID-19 pode constituir conduta disciplinar e criminalmente punível”.
Mais, o Ministério da Saúde determinou que a task force “reforce instruções para que as entidades responsáveis pela operacionalização do plano preparem, de antemão, uma lista de outras pessoas prioritárias a quem poderão administrar as vacinas, no caso de impossibilidade superveniente de alguma das pessoas inicialmente definidas, devendo, ainda, tal circunstância ser devidamente reportada”. Ou seja, o Governo deu ordem para se criar uma lista de reservas e suplentes. Considerou “inaceitável qualquer utilização indevida” da vacina e as auditorias da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) arrancam esta semana.
O caso ganhou dimensão política. Pelo caminho Francisco Ramos, coordenador do plano nacional de vacinação, é agora o foco da polémica, depois de ter respondido, na SIC Notícias, que quem tomou a primeira dose sem ter direito a ela, poderá tomar a segunda. Apesar da batota, Francisco Ramos considerou que “não cabe a esta estrutura infligir castigos nessa matéria – essa pergunta explica um pouco aqueles 11% ou 12% nas eleições presidenciais do passado domingo, um espírito vingativo que não me parece que seja muito bom para uma sociedade solidária como a nossa”, disse, numa alusão aos votantes de André Ventura.
A JP, de Francisco Mota, quer os militares a coordenar o plano (o deputado Ricardo Baptista Leite, do PSD, já tinha pedido que fossem as Forças Armadas a coordenar um plano de vacinação em massa), o Chega exige explicações de Francisco Ramos no Parlamento e a Iniciativa Liberal quer que o primeiro-ministro assuma “as suas responsabilidades pela gestão calamitosa do plano de vacinação”.
No meio desta polémica, já há a certeza que a meta de vacinar 1,3 milhões de portugueses até ao final de março não se vai concretizar. A vacina da Astrazeneca, por exemplo, só chega a Portugal no dia 9.
No Parlamento, a polémica também está instalada sobre quem pode ser vacinado. Ferro Rodrigues, tinha submetido ao Governo uma lista, na sexta-feira à noite, de cinquenta deputados. Volvidas algumas horas, percebeu que no PSD, doze disseram não. A resposta não lhe chegou a tempo. Assim, teve de mudar a lista: passou de 50 para 38. Entretanto, a líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, enviou-lhe uma carta a dizer que, para já, só o presidente da Assembleia da República, e dois vice-presidentes, Edite Estrela (PS) e António Filipe (PCP) devem ser vacinados de imediato. Os outros dois vices – Fernando Negrão (PSD) e José Manuel Pureza (BE) – já recusaram a vacina nesta fase. Para o PS, os demais deputados podem ser vacinados na primeira fase do plano, mas serão sempre os últimos.
Ao i, Hugo Pires (PS), um dos nomes indicados por Ferro, limitou-se a confessar-se ao “surpreendido” por o seu nome constar da lista.