Benjamin Rothschild. Um magnata que fugia do seu legado

O herdeiro da famosa dinastia bancária, com três séculos de história, sempre teve o seu destino traçado. Mas deixou os negócios nas mãos da sua mulher, Ariane, para se dedicar às suas paixões: carros desportivos e vela. Mesmo com essa vida de sonho, morreu aos 57 anos, de ataque cardíaco.

Entre os muitos privilégios de Benjamin de Rothschild, herdeiro do ramo suíço da mais famosa dinastia financeira do planeta, um dos que mais valorizava era «o privilégio de existir sem um telemóvel», explicou o magnata em 2010, puxando de cigarro de mentol atrás de cigarro de mentol, numa rara entrevista ao Haaretz.

Anos antes, Benjamin dera-se ao luxo de abandonar os negócios, que ficaram nas mãos da sua energética mulher, Ariane. O magnata pôde assim dedicar-se às suas grandes paixões, como as corridas de iate e carros desportivos. Mas mesmo essa vida de lazer não o impediu de falecer com um ataque cardíaco fulminante, aos 57 anos, na sua mansão em Pregny, na Suíça, anunciou o grupo financeiro de que era dono, a Edmond de Rothschild, no sábado passado.

Benjamin, conhecido como «o mais rico dos Rothschild», deixou para trás quatro filhas, que herdarão uma fortuna pessoal avaliada pela Forbes em mais de 1,4 mil milhões de dólares, o equivalente a mais de mil milhões de euros. Bem como um conglomerado bancário que gere ativos no valor de mais de 190 mil milhões de dólares, uns 160 mil milhões de euros, que conta com mais de 2600 empregos em 32 localizações por todo o mundo.

Benjamin sempre fugira da imprensa cor-de-rosa, recusando aparecer nas requintadas festas da aristocracia suíça e francesa, refugiando-se no seu palacete com vista para o lago Genebra. Contudo, agora, inevitavelmente, as luzes da ribalta irão virar-se para as suas filhas, algo que Benjamin sempre quis evitar.

 Porquê? «Primeiro, porque não quero as minhas filhas constantemente rodeadas por 40 guarda-costas, porque isso não é maneira de se viver. Segundo, há pessoas que não gostam de nós, e isso é sempre um risco», disse na altura na mesma entrevista concedida ao jornal israelita.

Não se tratava de um exagero.

A dinastia Rothschild, com a sua centenária influência sobre o sistema bancário, cuja origem judaica não é esquecida por antissemitas, é o némesis de muitos teóricos da conspiração, acusada de liderar cabalas ou controlar o mundo nas sombras. O nome Rothschild repete-se, desde as teorias da conspiração mais modernas, que infetam os cantos da internet, até aos infames Protocolos dos Sábios de Sião, um texto antissemita forjado na Rússia czarista, no início do século XX, que seria publicado nos EUA por Henry Ford, vindo mais tarde a inspirar Adolfo Hitler.

 

Perfil

Benjamin, nascido a 30 de julho de 1963, em Neuilly-sur-Seine, um subúrbio fino de Paris, sabia à partida que tinha o seu rumo traçado. Não só fazia parte da sétima geração de descendentes de Mayer Amschel Rothschild, o patriarca da família, como era o único filho de Nadine e Edmond Adolphe Rothschild – uma rara distinção numa dinastia conhecida por favorecer uma quantidade numerosa de filhos, de maneira a estender o seu alcance, e tornando mais provável que haja um gestor apto entre a prole. «Sempre foi claro e sempre fui educado para isso», recordaria Benjamin, na sua entrevista de 2010. «Era muito claro que eu não iria trabalhar para uma empresa telefónica, que não lançaria uma empresa de moinhos eólicos. Eu sabia que seria banqueiro», afirmou.

Contudo, à primeira hipótese que teve de escapar, Benjamin partiu para a Universidade Pepperdine, em Malibu, na Califórnia. Foi estudar gestão, como não podia deixar de ser, mas, pelo meio, dedicou-se sobretudo ao surf, ganhando uma paixão pelo mar que não mais o abandonaria.

Após trabalhar alguns anos para a British Petroleum, em Londres, experimentando lançar algumas empresas pelo meio, Benjamin tornou-se chefe do negócio de família em 1997, após a morte do seu pai. Dois anos depois, casou com Ariane Langner, gestora da secção francesa da seguradora American International Group, em quem Benjamin foi depositando cada vez mais responsabilidade, até esta ficar encarregue das operações bancárias da Edmond de Rothschild, em 2015.

O herdeiro da dinastia queria afastar-se de preocupações mundanas – sabia que a sua fortuna gigantesca «depende sobretudo do valor que dão ao nome Rothschild», explicou ao Haaretz. Já Arianne gabava essa capacidade de Benjamin viver a vida. «Ele tem um grande distanciamento, um temperamento completamente diferente», garantiu a gestora ao Financial Times. «Eu admiro isso porque não o posso ter. Tenho de estar completamente focada», acrescentava. 

A partir daí, Benjamin envolvia-se sobretudo nas partes do negócio que lhe davam gosto, como as vinhas que produzem o Château Lafite Rothschild, um vinho tinto – online, encontrará packs de seis garrafas da colheita de 2014 à venda pela módica quantia de 4320 euros. Benjamin ainda herdou as vinhas Château Clarke, tendo comprado as do Château des Lauret, investindo noutras produções de vinho em países como Espanha, África do Sul, Argentina ou Nova Zelândia.

Entretanto, Benjamin apaixonou-se pela velocidade, descendo montanhas a esquiar, em motos, carros de corrida ou barcos a motor. «Não há um osso no meu corpo que não tenha partido», gabou-se certa vez, como recordou o Wall Street Journal.