1. Os efeitos do confinamento começam a refletir-se nos números de óbitos e de internados nos cuidados intensivos. Era o esperado. Confirma-se, assim, que não existem condições para que o país real possa retomar tão cedo a nova normalidade dentro de um quadro de vida coletiva e individual que não se irá repetir. Liderar nestas circunstâncias é uma enorme responsabilidade que não admite falhas, projeções erráticas e planeamentos tardios. Cada segundo conta na realidade dos que estão hospitalizados, dos profissionais de saúde que têm estado na primeira linha de combate à pandemia e da sociedade no seu conjunto.
Nas últimas semanas, Portugal, que na primeira vaga da pandemia, foi apresentado como um caso de sucesso, tornou-se notícia pelas piores razões. Há quem sustente que o Governo não acreditou que uma segunda e terceira vagas poderiam ser tão devastadoras. Há que admitir que tal possa ter acontecido se virmos como os hospitais não se organizaram devidamente e, ao nível da educação, como não se avançou com a promessa de que todos os alunos iriam ter um computador, o que efetivamente não aconteceu.
Ultrapassado o caos, denunciado nomeadamente, pelas fotografias chocantes publicadas no último número da revista francesa Paris Match, com chamada de capa onde se lê: A variante inglesa mergulha Portugal no inferno, importa agora uma eficaz coordenação dos serviços e uma comunicação que não seja de fuga para a frente e depois logo se vê o que se diz. Existiu um tempo em que os políticos tinham margem para pensar, decidir, agir e comunicar. Esse tempo não existe mais. Tudo se passa no imediato e em simultâneo. Os media, a partir de meados do século passado, introduziram novas regras na forma de exercer funções públicas e na mediação entre eleitores e eleitos. Com as novas plataformas tecnológicas tudo se acelerou para o bem e para o mal. Não há como evitá-lo.
Na impossibilidade de antecipar o amanhã, o que temos é uma nova liderança da task-force do plano de vacinação, agora sob disciplina militar. Veremos se resulta, conhecidas que são as imperfeições do plano desenhado pelo Governo e baseado em pressupostos que, sabemos agora, não se confirmam. Há atrasos na chegada das vacinas e a comunidade científica começa a interrogar-se sobre a real eficácia das vacinas, nomeadamente quanto à sua durabilidade depois de aplicada. Múltiplas perguntas têm sido feitas nas últimas semanas que resultam em outras tantas dúvidas. Mais uma vez, o alinhamento dos países europeus está a ser posto à prova. É assumido que a Comissão Europeia não esteve bem como geriu o processo de compra e fornecimento das vacinas com a presidente da Comissão a ter que vir a terreno justificar-se e lembrar que o seu mandato tem que ser avaliado ao fim de cinco anos e não neste preciso momento.
2. Como se a crise pandémica não fosse suficiente para tornar a situação grave, eis que alguns comentadores vieram pedir a queda do Governo e a formação de um executivo de iniciativa presidencial. É bom lembrarmos que vivemos numa democracia representativa e não ceder à demagogia verbal. Existem dificuldades? Existem. Falta de planeamento? Não há dúvidas. Mas daí até estarmos no apocalipse há uma distância abissal. Nem os governos de iniciativa presidencial são de boa memória nem alguém com bom senso vê Marcelo Rebelo de Sousa para aí voltado. É um não-tema. Assim como não é assunto que galvanize os portugueses a ‘guerra’ da pequena política instalada no CDS. É certo que a imagem do Conselho Nacional tão divulgada nas televisões e nas redes sociais mostrou as lutas pelo poder, os ajustes de contas e as questiúnculas internas. O CDS caminha a passos largos para se tornar um partido irrelevante no xadrez partidário e Francisco Rodrigues dos Santos é um líder prazo. São inúmeras as semelhanças entre a política e o futebol. Quando há resultados, tudo está bem. Quando se acumulam derrotas, despede-se o treinador. No caso do CDS, é tudo uma questão de tempo, mas o relógio está a contar.