Por Nélson Mateus e Alice Vieira
Querida avó, celebra-se este fim de semana o Dia dos Namorados. Em muitos países chamado de Dia de São Valentim. Nunca liguei a este dia em particular! Gosto de comemorar o dia em que eu comecei a namorar. Esse sim, é um dia especial para mim! Agora, um dia em que todos comemoram…
É ver os restaurantes, ridiculamente decorados com corações e cupidos, encherem-se de casais enamorados para celebrar este dia tão especial.
A maior parte dos casais apaixonados, não sabe que segundo a lenda, São Valentim foi um bispo que lutou contra as ordens do imperador Cláudio II, que havia proibido o casamento durante as guerras, acreditando que os solteiros eram melhores combatentes.
Valentim continuou celebrando casamentos, apesar da proibição do imperador. O bispo foi preso e condenado à morte. Na prisão, Valentim apaixonou-se pela filha cega de um carcereiro e, milagrosamente, devolveu-lhe a visão. Antes da execução, Valentim escreveu uma mensagem de adeus para a sua amada, na qual assinava como «Seu Namorado» ou «De seu Valentim».
E assim nasce o Dia dos Namorados!
Um dia ótimo para alavancar a economia! É ver os homens, ao fim do dia, desesperados à porta das floristas ou de lojas de chocolates. Livrai-os de chegarem ao jantar romântico de mãos a abanar! A amada, mesmo que esteja a fazer dieta, não goste dos chocolates ou das flores, recebe o presente com um grande sorriso, pois ele, naquele dia, passou o dia a pensar nela.
Mas se existe coisa que arrasa comigo, é olhar para as montras daquelas lojas que estão repletas de peluches,
almofadas, aventais, molduras… Tudo com muitos corações e mensagens apaixonadas!
Se alguém me oferecesse um urso daqueles enormes (que não cabe em lado nenhum), a pessoa, e o urso, iam à vida deles mais depressa do que tinham vindo!
Era menino para terminar um relacionamento no Dia dos Namorados!
Querido neto, se há coisa que me tira do sério são os festejos de S.Valentim, no dia 14 de fevereiro.
As lojas atulhadas de coraçõezinhos, de ursinhos de peluche, cheios de dísticos no mais puro português, «Be My Valentine!», «Hug Me!», e canecas com «I Love You» em toda a volta.
Devo dizer que não tenho nada contra o santo. Contra os namorados ainda tenho menos, acho até que se deve namorar todos os dias, sem necessidade de patrono celestial.
Quem tem um santo como o nosso Santo António, capaz de colar pés decepados, falar aos peixes, e livrar o pai da forca — já para não falar das bilhas consertadas e da resposta masculina e pronta a jovens donzelas encalhadas — que necessidade tem de importar um estranho, a respeito do qual apenas se sabe que foi preso, açoitado e decapitado.
Se querem encontrar um dia para festejar os namorados, ótimo. Mas então que se escolha o 13 de junho, com sardinhas assadas, fogueiras, cravos de papel, alcachofras e manjericos.
Porque a verdade é que no dia 14 de fevereiro, juntamente com o S. Valentim, importa-se a papinha toda feita, modelos únicos para todos os países, a globalização no seu melhor.
Os meus dois homens também detestavam o Dia de S.Valentim.
Mas no dia 14 de fevereiro levavam-me sempre a jantar fora, champanhe, à nossa!
E as pessoas diziam «pois é, dizem mal mas depois fazem a mesma coisa»…
E nós ríamos, e engolíamos mais champanhe.
Porque o que as pessoas não sabiam é que, no dia 14 de fevereiro nós não festejávamos S. Valentim. Nesse dia eu tinha sido operada a um cancro da mama, e o médico tinha-me dado 2 a 3 anos de vida. Por isso o que nós sempre festejávamos era mais um ano de vida que eu tinha conseguido (e já lá vão 32).
Por isso ainda hoje, apesar de eles já não estarem comigo, no dia 14 de fevereiro vou jantar fora, e beber champanhe, e erguer a minha taça, «à nossa!». Onde quer que eles estejam, tenho a certeza de que também estão a brindar comigo.