Começou ontem a nova estratégia de testagem em Portugal. Depois da reunião do Governo com o Infarmed na semana passada, a ministra da Saúde, Marta Temido, pediu para que se atualizasse a estratégia de testagem à covid-19, passando agora esta a incluir todos os contactos do infetado, fossem eles de alto ou de baixo risco. Além disso, outra mudança contemplada na nova estratégia de vacinação foi a testagem quinzenal, através de testes rápidos de antigénio (TRAG), em escolas, estabelecimentos prisionais e contextos laborais de alta exposição – como é o caso das fábricas e da construção civil.
O mesmo deverá acontecer nas instituições de apoio a população mais vulnerável como estruturas residenciais de idosos, instituições sociais de acolhimento e/ou apoio social, centros de acolhimento de migrantes e refugiados e unidades da rede nacional de cuidados continuados. Os rastreios periódicos deverão ser realizados tanto aos residentes e utentes dos espaços como aos profissionais que lá trabalham. Também os concelhos com mais 480 casos
de infeção por 100 mil habitantes estarão incluídos no plano de testagem quinzenal.
Serão ainda disponibilizados TRAG a unidades dos agrupamentos de centros de saúde e unidades locais de saúde em todo o Serviço Nacional de Saúde (SNS), para todos os utentes que se desloquem a consultas presenciais.
Apesar de estas medidas de rastreio serem apoiadas por vários especialistas desde o início da pandemia, os médicos dos cuidados de saúde primários estão preocupados com a pressão sob a qual poderão ficar tanto devido aos rastreios dos contactos como com a realização dos testes regulares no exterior.
Contactado pelo i, o ex-presidente de Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira, afirma que as novas normas do plano de vacinação são um “conjunto de procedimentos pouco esclarecido e que carece de apreciação mais cuidadosa”. O médico de família acredita que “faz sentido testar mais e faz sentido rastrear mais”; no entanto, mesmo dentro desse plano, nem tudo faz sentido.
Rui Nogueira assume não entender o porquê de se querer testar quem esteve próximo do infetado “até a um máximo de cinco dias depois do contacto”. Nessa altura, o vírus pode ainda estar em incubação, dando então origem a um falso negativo. Contudo, o médico esclarece que não está “a defender que não se teste”, mas sim a apostar “mais em vários testes”. Rui Nogueira afirma que “os testes podem ser um logro e o facto de darem negativo não é sinal de nenhuma tranquilidade”. A sugestão é que se realizem três testes num espaço de sete dias: “O primeiro nos dois ou três dias após o contacto; se der negativo, faz-se outro passados dois ou três dias; e, por fim, faz-se mais um ao sétimo dia após o contacto”. Desse modo, reflete o ex-presidente da APMGF, seria possível detetar com maior certeza quem estivesse infetado. Se, no último teste, o resultado fosse positivo, “já não faria sentido ficar mais dez dias em casa, mas sim apenas três, perfazendo o total de dez dias de isolamento após o contacto com o infetado”.
O médico de família acredita que, no entanto, a medida mais importante não passa pela testagem massiva. “Temos de investir na medida mais importante: isolamento de casos e de suspeitos”, esclarece.
A medicina geral e familiar continuará a ter a competência de rastrear os contactos do infetando, sendo possível que os profissionais de saúde primários fiquem ainda mais sobrecarregados.