Sofia e Mayla, irmãs gémeas, de 19 anos, têm sido notícia na imprensa brasileira, depois de ambas realizarem uma cirurgia de mudança de sexo, denominada cirurgia de redesignação sexual, partilhando publicamente a conquista de um sonho tornado realidade para as duas.
As irmãs realizaram o procedimento na semana passada, no hospital de Blumenau, na região brasileira do Vale do Itajaí.
Em declarações ao G1, Sofia Albuquerck contou que a cirurgia foi apenas o início de uma luta.
"Na verdade, mal comecei minha luta, eu ainda tenho que conquistar os meus direitos, o meu lugar na sociedade e o respeito dela. Eu quero deixar meu legado, quero ajudar pessoas, terminar minha faculdade, abrir minha própria empresa. Não adianta eu ter chegado até aqui e achar que acabou. Como papel de cidadã, eu ainda tenho muita coisa a fazer", disse a jovem, que é estudante de engenheira civil.
Sofia e Mayla nasceram como rapazes, mas discutiam a transição para o sexo feminino há vários anos. As despesas das cirurgias, realizadas no sistema de saúde privado, foram pagas pelo avô, que vendeu uma casa para conseguir o dinheiro e ajudar as netas. O ano passado já tinham operado o peito.
"Quando saiu [a possibilidade de fazer cirurgia de] readequação sexual, eu falava, gente estou sonhando, eu não acreditava. Eu pensei que ia acordar e ficaria muito frustrada. Mas, quando a minha irmã fez, eu pensei: 'Amanhã sou eu! Amanhã acaba tudo isso, todo esse sofrimento'", disse, admitindo que sabe os desafios que tanto ela como a irmã irão enfrentar, sobretudo num país onde a transfobia é um dos maiores problemas.
"Eu espero de coração que acabe isso. [Espero que] as pessoas comecem a ter mais empatia e compaixão por pessoas como a gente. Que empreguem mais pessoas como a gente, que abram mais portas […] a gente merece ser feliz", afirmou.
As jovens são de Minais Gerais e devem voltar a casa no final deste mês. Ambas continuarão a ser acompanhadas por uma equipa médica.
Mayla, a irmã de Sofia, revela que as duas sempre tiveram o apoio da família. "Nunca tive rejeição familiar. O medo dos pais não é de a gente ser quem a gente é, mas dos outros machucarem a gente", disse Mayla, que falou ainda sobre as dificuldades de realizar este tipo de cirurgia num hospital público, explicando que iniciar o processo pode levar até cinco anos.
"Tem gente que não tem condições de pagar a cirurgia. Tem gente que se prostitui. Eu fico com pena dessas pessoas porque elas não tiveram a mesma oportunidade que eu tive de ter uma casa para vender e conseguir fazer a cirurgia. Acho que tinha que ser mais fácil para as pessoas conseguirem os seus direitos", concluiu Sofia.