Por Jorge Proença
Diretor da Faculdade de Educação Física e Desporto da Universidade Lusófona
A urgência do tempo presente, ampliado pelos meios de comunicação social com recurso a opinadores que de tudo sabem, a técnicos, cientistas e a vítimas do acaso, do desleixo e da necessidade, tornou hegemónico o assunto e conduz a decisões pessoais e políticas nem sempre determinadas pela desejada racionalidade, mesmo sabendo que a sua importância é tanto maior quanto mais delicados os problemas a enfrentar.
Confinar, limitar, proibir, amedrontar com o objetivo de evitar a doença, pode significar perturbação da saúde, perda de oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento, sobretudo em crianças e jovens, e causa de aprofundamento de uma das mais antigas e persistente ‘doença’ em Portugal: a perpetuação das desigualdades sociais que tem na Educação a sua causa primeira.
Aprendendo com erros passados, esteve agora mais presente a consciência do que significa o confinamento escolar, em geral, e muito especialmente para os mais novos; a dúvida sobre o encerramento das Escolas do primeiro ciclo e pré-escolar subsistiu até à decisão final e a incerteza sobre a sua adequação permanecerá.
Em poucos meses mudou o discurso – espera-se que também as conceções – e o ensino presencial passou a ser insubstituível; constatou-se as perdas imediatas e a necessidade de recuperar conhecimentos e aprendizagens das várias matérias (cuidado com os rankings!…). Resistiu-se, mas cedeu-se; não apenas o Governo, importa precisar. E, todavia, o essencial não terá sido salvaguardado: as perdas em Educação e os danos e custos futuros em Saúde.
Para além do que os estudos mais recentes evidenciam, o confinamento representa a supressão do essencial em Educação – não confundir com instrução – da criança; o mundo virtual permitirá aquisição de conhecimentos, mas o movimento, a expressão e relação entre corpos não podem ser digitalizados…; o conhecimento de si mesmo e do outro – todos os outros – empobrecido; a liberdade condicionada e a responsabilização diminuída.
É curioso verificar, a consonância com outra e mais prolongada proibição a que estão sujeitas todas as crianças e jovens deste país – a prática desportiva educativa: ao invés do que seria recomendado, aplicando o critério sanitário, a prática desportiva foi e é permitida apenas aos seniores e há longos meses vedada a crianças e jovens. Curioso, mas coerente com as sucessivas políticas de desinvestimento na prática desportiva educativa e saudável, esbanjando o seu enorme potencial e contrariando um direito inscrito na Constituição.
Tempos estranhos que a pandemia acentua.