Falta apenas 2% para a variante inglesa do novo coronavírus dominar metades das infeções em Portugal, confirmou o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA). No inicio de janeiro, esta estirpe representava apenas 8% das infeções.
"À data de 16 de fevereiro [terça-feira], estimamos que esta variante represente cerca de 48% de todos os casos covid-19 em Portugal", indicou João Paulo Gomes, investigador do INSA e coordenador do estudo sobre a diversidade genética da covid-19 em Portugal, à agência Lusa.
De acordo com os dados do INSA, a incidência da variante inglesa do SARS-coV-2, considerada mais contagiosa, tem vindo a crescer no país desde janeiro, verificando-se um aumento gradual ao longo das semanas, no período em que foi registado o maior número de novos casos em Portugal.
João Paulo Gomes considera que a variante proveniente do Reino Unido representou cerca de 8% dos casos com o novo coronavírus na primeira semana de 2021, acrescentando os 13,4% na segunda semana de janeiro e os 24,7% na terceira.
Na terceira vaga "pesou não só o elevado número de introduções desta variante que terão ocorrido durante a segunda quinzena de dezembro, como também a sua elevada transmissibilidade", explica.
Segundo o especialista, esta ascensão progressiva da incidência da variante "certamente contribuiu" para o surgimento da chamada “terceira vaga” que se verificou no início do ano com o grande aumento de casos de covid-19 por todo o país, ainda que não tenha sido o "fator que mais pesou".
"Na contribuição que teve, pesou não só o elevado número de introduções desta variante que terão ocorrido durante a segunda quinzena de dezembro – regresso de imigrantes portugueses para o Natal e turistas do Reino Unido -, como também a sua elevada transmissibilidade", assinalou.
Já em relação à variante originária de África do Sul, o INSA só detetou quatro casos em Portugal. E até esta quinta-feira, também não se registaram casos da estirpe encontrada primeiramente em Manaus, no Brasil.
O responsável pela Unidade de Investigação Epidemiológica do INSA, Baltazar Nunes, disse, citado pela Lusa, que a "evolução da pandemia em cada continente, país e região tem sido diversa, com diferentes fases e momentos de crescimento e decréscimo da incidência".
Portanto, a designação "terceira vaga deve ser contextualizada", sublinhou Baltazar Nunes, admitindo que "numerar as fases de crescimento da epidemia é uma forma muito simplista de analisar a sua evolução".
"Na realidade, temos observado diferentes fases de crescimento e decréscimo do número de casos, que têm sido determinadas pela introdução do vírus na população, por novas variantes mais transmissíveis, pela implementação ou levantamento de medidas não farmacológicas, por comportamentos populacionais (festividades e períodos de férias), pelas estações do ano ou pela implementação de programas de vacinação", afirmou.
Por isso, a variação da incidência ao "nível local, regional, nacional e global é muito difícil de prever", principalmente num contexto recorrente de alterações nas restrições, segundo o especialista.
Baltazar Nunes afirmou que a incidência do novo coronavírus é elevada em quase todos os países europeus, tendo como critério um predomínio superior a 60 novos casos por 100.000 pessoas nos últimos 14 dias, excepto na Islândia, onde se verificam apenas 10 novos casos de infeção por 100.000 habitantes.
"Existe a possibilidade do aumento da incidência que agora se verifica em alguns países europeus possa vir a verificar-se em outros países, mas o gradiente de Ocidente para Oriente já não existe", salientou Baltazar Nunes, ao exemplificar com os casos da Grécia e da Finlândia que, em diferentes zonas da Europa, segue a mesma tendência crescente de casos.
"A distribuição espacial dependerá da efetividade que as medidas de controlo implementadas tenham em cada país e da rapidez e do efeito que a vacinação tenha nesses mesmos países", apontou.