Um dos maiores receios quando se observam as enormes manifestações em Myanmar contra o golpe militar que afastou do poder a líder Aung San Suu Kyi é a possibilidade de um massacre de opositores pelo exército. Esse cenário de pesadelo ainda não ocorreu; contudo, na quarta-feira, em Rangum, foram reportados ataques de centenas de apoiantes dos militares contra manifestantes pró-democracia, provocando feridos e o caos generalizado.
Os apoiantes dos militares usaram tubos de metal e fisgas para atingir opositores do regime, muito mais numerosos. Estes ripostaram detendo membros do grupo pró-militares, que levavam consigo cassetetes, canivetes e fisgas. “Penso que eles têm o direito de protestar, mas não deveriam ter usado armas”, disse à France-Presse Zaw Oo, um manifestante ferido nas costas durante os confrontos.
Um dos acontecimentos mais violentos deste confronto ocorreu quando um homem foi esfaqueado por um apoiante dos militares. O momento foi captado em vídeo e divulgado nas redes sociais.
Esta não é a primeira vez que grupos pró-militares saem à rua para demonstrar apoio aos autores do golpe de Estado. No entanto, é a primeira vez que cometem atos de violência.
Estes confrontos tiveram início depois de centenas de apoiantes do exército, mais conhecido por Tatmadaw, terem organizado uma marcha de apoio ao golpe que destronou o Governo de Suu Kyi onde era possível ver cartazes com mensagens como “nós apoiamos os serviços de defesa”. Estes slogans estavam escritos em inglês, numa tentativa de conseguir algum apoio internacional, escreve a AP.
Críticos do exército acreditam que estes manifestantes estão a ser pagos para fingir o seu apoio aos militares e cometerem atos violentos, escreveu a agência de notícias. São acusações difíceis de verificar, mas é algo que já aconteceu no passado, nomeadamente em 1998, durante uma tentativa para derrubar a ditadura militar e, em 2003, numa emboscada realizada contra Suu Kyi.
Restrições nas redes sociais Face à utilização de “violência mortífera” contra manifestantes pró-democracia, o Facebook e o Instagram decidiram encerrar as contas ligadas aos militares birmaneses. “Os acontecimentos desde o golpe de Estado de 1 de fevereiro, incluindo violência mortal, precipitaram a necessidade desta proibição”, explicou o Facebook, em comunicado.
As páginas das instituições governamentais, agora geridas pela junta militar, não foram afetadas. Também foram decididas novas sanções contra a junta, com o Banco Mundial a anunciar a suspensão de toda a ajuda humanitária a Myanmar, que o ano passado ascendeu a cerca de 900 milhões de dólares (735,6 milhões de euros).
Desde que o golpe de Estado foi feito, a 1 de fevereiro, já morreram pelo menos oito pessoas em resultado da violência desencadeada pelos militares.