Apesar de a Câmara Municipal de Lisboa (CML) ter anunciado um acordo com os peticionários que queriam continuar a ver os brasões floridos na Praça do Império, em Belém, a verdade é que estes ainda não estão a salvo.
Rafael Pinto Borges, dirigente da Nova Portugalidade e promotor da petição «Contra o apagamento dos brasões da Praça do Império», que conta já com mais de 14 mil assinaturas, acredita que «falar em acordo é prematuro, uma vez que o que existe de momento é um pré-acordo» mas que não está definitivamente fechado.
Em reunião, a CML assumiu que não pretendia retirar os brasões, mas que seria muito dispendioso mantê-los na forma sob a qual hoje existem – em canteiros ajardinados ou buxos.
E tanto a responsável pelo projeto de requalificação da Praça do Império, Cristina Castelo Branco, como o presidente da Junta de Freguesia de Belém, Fernando Ribeiro Rosa – que se dispôs a suportar os custos da manutenção dos canteiros – sugeriram, como explicou o dirigente da Nova Portugalidade ao Nascer do SOL, «a possibilidade de se manter os brasões, mas agora em calçada portuguesa».
Para que os brasões florais se mantivessem, seria necessário que se «desejasse investir na formação de jardineiros, talvez em colaboração com outras câmaras da Área Metropolitana de Lisboa», afirma Rafael Pinto Borges. No entanto, além de esse processo acarretar mais custos, «seria um processo difícil e exigiria anos».
Rafael Pinto Borges mostra o seu agrado em ter reunido com a CML e saúda «a abertura da CML para acolher a vontade expressa e reiterada de tantos milhares de peticionários». E acredita que a reunião serviu para mostrar como a autarquia nunca teve «má vontade contra os brasões», sendo que da parte dos peticionários nada os move contra a CML, havendo «apenas uma discordância de cidadania».
«A res publica (no sentido de coisa pública, da comunidade), a habilidade e a vontade de vivermos em conjunto, com referências comuns e uma narrativa que nos una está sob grave ataque por extremistas», afirma ainda o promotor da petição. Por isso mesmo, acredita que «é muito importante que as forças que defendem a sensatez e o convívio falem alto», da direita à esquerda.
Da reunião saiu o objetivo de serem discutidas propostas com vista à manutenção dos brasões, de uma outra maneira, quer seja incorporados em pedra da calçada, integrados num empedramento num relvado ou até reproduzidos em placas evocativas (por exemplo, de acrílico) e colocados no mesmo sítio onde antes existiam flores. Para Rafael Pinto Borges, «estando definido que os brasões não saem da Praça do Império, o que importa agora é perceber que forma tomarão».
A polémica relativa às obras de reestruturação do Jardim do Império vêm desde 2014, ano em que a CML lançou a proposta, sendo que dois anos depois a aprovou. O plano tinha como objetivo retomar a ideia de Cottinelli Telmo, que projetou a praça em 1940 no âmbito da Exposição do Mundo Português. Os canteiros floridos foram acrescentados apenas 21 anos depois por ocasião dos 500 anos da morte do Infante D. Henrique e da Exposição Nacional de Floricultura.
A questão, como defende António Barreto, é que os brasões florais são apenas o ‘princípio’ de um movimento mais vasto de «tentativa de reescrita da História».
Por outro lado, como salienta a arquitecta-paisagista Elsa Severino, os brasões florais dos jordins da Praça do Império são um valioso exemplo da mosaico-cultura em vias de extinção, que deveria ser preservado como património cultural.