1. Os portugueses têm cumprido exemplarmente este segundo desconfinamento. Não tem sido fácil suportar semanas de isolamento que nos deixa confrontados com a solidão, principalmente dos mais velhos. Afastados das famílias, os que a têm, vivem este período com dificuldades acrescidas. Estar só é uma condição contra natura.
O desconfinamento traz problemas de saúde mental, afetiva e relacional. As crianças, fechadas em casa, não podem conviver o que é um desafio que se coloca a muitas famílias portuguesas. A gestão da pandemia implica não apenas a descida do número de internados e de óbitos mas interpela cada um de nós a reaprender a viver em condições que até há um ano julgávamos inimagináveis. Temos forçosamente de nos reinventar para vivermos esta fase da melhor forma possível.
Este segundo desconfinamento expõe as graves dificuldades em que se encontram alguns setores económicos. Restaurantes fechados, hotéis uns encerrados, outros parcialmente abertos, a cultura paralisada numa asfixia que consta da carta aberta ao primeiro-ministro.
Dito isto, este segundo desconfinamento, apesar das variantes do vírus, aliviou a pressão que estava a ser exercida sobre o serviço nacional de saúde e retirou Portugal do primeiro lugar de países mais penalizados pela pandemia. As lições do primeiro confinamento foram aprendidas e, mais ainda, o facilitismo do momento de descompressão que coincidiu com o natal e ano novo. Por isso, temos que estar preparados para mais um mês de isolamento. Não é altura para facilitismos por muito penosa que a situação seja para cada um de nós e para a economia em geral.
É um momento de resiliência que nos interpela. E é positivo que a classe política esteja alinhada neste esforço comum. O momento exige união de esforços e não divisionismos e é também por isso que o desconfinamento é um tema tabu. Quando acontecer será gradual, faseado. Terá que ser conduzido com prudência. Sem precipitações para que não tenhamos que voltar atrás e recomeçar tudo de novo.
2. Uma carta aberta publicada esta semana no Público suscita preocupações que julgávamos inaceitáveis num mundo livre e democrático. É um texto que sugere a censura à forma como a comunicação social, principalmente as televisões generalistas, tem tratado sob a forma da palavra e da imagem, acontecimentos reais relacionados com a pandemia que não são notícias falsas. Mostrar, denunciar, questionar com rigor é verdade são basilares em democracia e a liberdade de expressão é um dos seus pilares fundamentais. Não perceber isto é um atentado aos valores democráticos que regem a nossa sociedade. Não mostrar filas de ambulância às portas do hospital Santa Maria? Ignorar a escassez de oxigénio no Amadora-Sintra? Não ouvir os críticos? Não questionar os responsáveis? Impensável. A censura é de má memória. Seja ela de esquerda ou de direita.