por Judite de Sousa
O PCP está a assinalar os seus 100 anos de existência. É um tempo longo que percorre, desde a fundação do partido, os grandes acontecimentos do século passado. De certa forma, a história do partido comunista coincide com a janela temporal que o historiador marxista Eric Hobsbawn classificou como o «pequeno século XXI» a começar com a revolução soviética em 1917 e a terminar em 1989 com a queda do muro de Berlim no seu livro A era dos extremos.
Foi neste período que o PCP fixou a sua matriz marxista-leninista e se formatou como um partido da classe operária, definindo a luta de classes como motor da história, a posse dos meios de produção como condição de igualdade, desafiando o tempo para uma democracia avançada.
Com o fim da guerra fria e a implosão da URSS em 1991, com Boris Iéltsin ao leme da governação em Moscovo, a geopolítica mudou radicalmente. A NATO manteve-se mas o Pacto de Varsóvia extinguiu-se assim como a maioria dos países da antiga Europa de Leste se tornaram democracias liberais e abriram as portas ao capitalismo desregulado resultante das novas regras impostas pela globalização.
No Ocidente, os partidos comunistas que integravam a corrente do ‘eurocomunismo’ ou se desintegraram ou mudaram de nome ou extinguiram-se. O PCP foi o único partido que resistiu à queda dos blocos e às transformações históricas que reconfiguraram o mundo. Resistiu e resiste ancorado numa base sindical ligada ao escasso setor empresarial do Estado e à função pública.
Decorridos 100 anos, o PCP tem múltiplos desafios pela frente urgentes perante o declínio eleitoral dos últimos anos: conquistar novos eleitores; encontrar novas causas e preparar a sucessão de Jerónimo de Sousa cujo capital de empatia tem sido uma das marcas mais distintivas da sua liderança. Não será fácil. O l íder do PCP estabelece um vínculo emocional que o torna próximo e confiável e que está muitos pontos acima da base eleitoral do partido. Quanto às utopias, como alguém disse, elas não morrem mesmo quando os ventos da história correm em sentido contrário.