Na semana passada, quando enviei às avós uma fotografia dos netos a carregarem canas para construirmos uma cabana, as respostas foram curiosamente semelhantes: «Cuidado com os olhos» e «Cuidado com o pó das canas que é perigoso para os olhos».
Se para alguns pais os alertas e a apoquentação às vezes excessiva e constante dos avós pode ser enervante – porque sentem que lhes é passado um atestado de incompetência – a mim, pelo menos agora, deixa-me deliciada, porque deixa transparecer a preocupação e o carinho que sentem pelos meus filhos. Como, por exemplo, a inquietação quando andam descalços ou menos agasalhados, já a imaginá-los metidos na cama com 40 graus de febre. Não é por acaso que as avós gostam de tricotar camisolas e botinhas quentinhas para os netos e de lhes oferecer mantinhas, pijaminhas, casacos e sapatos. Querem assegurar que eles crescem bem agasalhados e protegidos, não vão os malandros dos pais comprar-lhes só t-shirts e sandálias. E nesse sentido é de esperar que não deixem escapar uma peça de roupa por onde possa entrar um bocadinho de frio. Tal como gostam de lhes encher bem a barriguinha cozinhando coisas de que eles gostam. Lembro-me de ser uma trinca-espinhas em pequena: sempre que passava uma temporada em casa da minha avó, várias pessoas comentavam que tinha vindo da engorda. Cozinharmos para quem gostamos e tricotarmos roupa quentinha são das formas mais queridas de cuidar de alguém.
Uma vez, num grupo de mães, assisti com alguma angústia a comentários menos felizes sobre estas preocupações e reparos especialmente das avós, como se fossem feitos para enervar e amesquinhar. Acho genuinamente que não, e espero um dia poder comprová-lo na primeira pessoa. Não é fácil ver crescer alguém de quem gostamos sem o tentarmos proteger, sem dizermos o que pensamos. Imagino que se um filho muitas vezes não deixa de ser visto pelos pais como uma criança, então o filho do filho deve ser um ser mesmo minúsculo, que precisa de toda a atenção.
Lembro-me bem da minha tia-avó arrepiada sempre que me via com os primeiros botões da camisa abertos. Tentava fechá-los imediatamente enquanto exclamava: «Brrrr! Ui que frio!», o que me deixava divertidíssima. Ontem, ao pensar em tudo isto, dei por mim a imaginar como teria sido ficar privada da sua presença por uma qualquer pandemia. E o que será para os avós de hoje verem os netos a crescer à distância, longe do seu amparo.
Uns amigos, em brincadeira, referem-se ao avô do filho, que vê perigo em tudo o que o neto faz, como o ‘proteção civil’ e divertem-se a imaginá-lo vestido com um daqueles coletes amarelos fluorescentes. Não deve ser fácil ficar a adivinhar os perigos pelo telemóvel, em fotografias ou vídeos descontextualizados sem poder fazer muito mais do que alertar os pais. Por mais que confiem, serão sempre também eles pais, a zelar pelo bem dos seus filhos e da sua prole.