Por Nélson Mateus e Alice Vieira
Querida avó,
Celebra-se hoje o Dia da Mulher. Devias ver o Woman, um belíssimo documentário, e exposição, que vi há uns anos. Duas mil mulheres, de 50 países diferentes, partilham testemunhos num retrato íntimo, onde abordam temas como a maternidade, educação, casamento, independência financeira e sexualidade. De chefes de estado a ícones de beleza, de motoristas de autocarros a agricultoras, elas denunciam também as injustiças sociais ligadas ao género, e mostram a força e capacidade que têm para mudar o mundo. Um documentário de Mulheres, sobre Mulheres, que devia ser visto por todos os Homens!
Mas, afinal, para que serve o Dia da Mulher?
Este dia celebra-se há precisamente 110 anos. Tem vindo a ser comemorado em vários países do mundo, de forma a reconhecer a importância e contributo da Mulher na sociedade.
É lamentável (ainda) vivermos uma sociedade onde é necessário lutar contra o preconceito, seja racial, sexual, político, cultural, linguístico ou económico, onde é necessário recordar as conquistas das Mulheres.
É uma tristeza vermos a desigualdade salarial entre homens e mulheres, ouvirmos as notícias sobre a quantidade de mulheres que são anualmente assassinadas à mãos dos seus ‘companheiros’, sobre a quantidade de mulheres que são violadas…
Ainda há pouco tempo as tarefas domésticas eram algo exclusivo da mulher. O tal trabalho não reconhecido e não remunerado. Assim como o cuidar dos filhos. Hoje, cada vez mais se vê a divisão de tarefas.
Ainda há pouco tempo ouvi ‘homens’ a dizerem: «O problema do cancro da mama é um problema das mulheres», como se o cancro da mama, não fosse um problema que atinge as mulheres e as suas famílias.
São tantos os homens que dizem que o aborto é um ‘problema das mulheres’… como se as mulheres engravidassem sozinhas!
Felizmente, a sociedade tem evoluído imenso. Mas ainda há tanto para evoluir.
Viva a todas as Mulheres!
Querido Neto,
E lá temos mais um Dia de…
Desta vez o Dia da Mulher, a 8 de março. Tudo começou quando, em fevereiro de 1909, se realizou em Nova Iorque uma grande marcha de apoio ao voto das mulheres.
As manifestações continuaram em vários países nos anos seguintes (diz-se que, na Rússia, essas manifestações abriram caminho à Revolução de 1917), mas só muitos anos depois, em 1975, é que a ONU promulgou o Dia da Mulher, escolhendo o dia 8 de março – hoje comemorado por mais 100 países.
Mas será que alguém festeja o Dia do Homem? Pois olhem que ele existe, desde 1999, e é celebrado no dia 19 de novembro em 40 países, entre os quais Portugal. Não duvido que o país inteiro saia para a rua a festejar, mas eu devo andar muito distraída porque nunca dei por nada. Está bem, a ONU ainda não se pronunciou, e os nossos homens querem estar sempre dentro da lei.
Existe uma organização americana, que não deve ter muito que fazer, que se dedica a encontrar dias para tudo. O dia 8 de março, por exemplo, é Dia de Esticar as Pernas, o que tem muito mais graça e, pelo menos é útil, sobretudo nestes tempos de pandemia.
E o tal dia 19 de novembro é – imagine-se… – Dia das Coisas Mesmo Mesmo Chatas. Eu, se fosse aos homens, protestava.
Mas há coisas piores. Naqueles “dias de” mesmo importantes — Dia de Portugal, Dia da Implantação da República, Dia da Independência, Dia da Liberdade — nem queiram saber o que eles festejam… Então, o dia 10 de junho é o “Dia de Chorares Pelo Teu Dinheiro”; o 5 de outubro é o “Dia dos Professores” (este até é bom…); o dia 1 de dezembro é o “Dia de Comeres Uma Maçã Vermelha” (este é saudável…); dia 25 de abril é o Dia de teres “Um Porquinho Embrulhado num Lençol” (este, palavra, nunca percebi, e acho que até vou reclamar…)
Mas também há alguns simpáticos… Por exemplo, o dia 1 de março (dia em que estou a escrever esta crónica ) é “Dia de Partilhares um Sorriso” .
Por isso, muitos sorrisos para todos é o que eu desejo.