por Pedro Antunes
Não, não me converti ao estatismo! Este é o título da entrevista de António Costa dada a 5 de março. Começa, como qualquer entrevista de político experimentado, com generalidades e banalidades. “Agenda focada no futuro”, “Agora sabemos melhor”, “Aprendemos muito” e outras variações destes temas. Estive quase para desistir de ler o resto.
Depois faz um desvio repentino logo para a ameaça, também muito comum no manual do cinismo politiqueiro: a ajuda europeia e o “não há segunda oportunidade”. Porque temos todos memória curta e nunca ouvimos esta antes!
Mas quais foram as lições de um ano de pandemia?
Começa logo com “medo”. A crise está para durar (SUSTO), portanto ainda vamos a tempo de tirar novas lições. Notem a técnica. É a lata de quem já governa há 6 anos e do partido que mais tempo governou desde o 25 de abril. Humildemente assumem que não sabem o que estão a fazer.
Começa com a primeira lição. Leio com expectativa à espera de um qualquer insight genial, apesar das discordâncias que tenho, António Costa é um político experimentado.
Desilusão: O problema é da CRP, porque os estados de exceção constitucional são inadequados à gestão da pandemia! A lata de quem não tem imaginação para compensar as suas próprias inadequações. A CRP é o bode expiatório. E porquê? Porque estados de emergência de 15 dias são insuficientes. Deve ter tomado gosto pelo poder extra-democrático que o EE lhe dá. Certamente andou a privar demasiado com o Orban.
Será a nossa CRP neoliberal, ou é só instrumentalizada para justificar a incapacidade do seu governo em demorar um ano a comprar computadores, por exemplo.
A segunda é ainda mais interessante, na distorção cognitiva, qual ilusionista de Las Vegas. Pelos vistos há consenso sobre a importância do SNS para o combate à pandemia. Não há é consenso sobre se SNS é “Sistema Nacional de Saúde”, que a Marta teme por detrás das suas palas ideológicas, ou se é o “Serviço Nacional de Saúde”, que tem milhões de consultas e cirurgias adiadas por causa de UM vírus.
Certamente a culpa é dos privados neoliberais, que disponibilizaram meios recusados, ou das farmácias que só querem vacinar para ganharem o seu e não por serem um bom veículo para a vacinação. Esses terríveis neoliberais.
Segue a entrevista com mais algumas banalidades. É tudo culpa de qualquer coisa externa a ele e ao seu governo.
Isto é o cinismo e hipocrisia de um governante que tem estado no pico do poder há décadas. De um partido que tem dominado a governação do país desde o 25 de Abril. Mas claro que nada disto é culpa deles! É a CRP que não serve. O SNS que não estava preparado (que não tem nada a ver com o domínio da governação socialista dos últimos 20 anos). Os neoliberais é que são culpados! Passos Coelho e os Liberais (est. 2017)!
No Youtube há vários canais com este nível argumentativo. Normalmente falam dos Iluminati e da conspiração da terra plana.
Um pouco farto deste raciocínio, fui à procura da frase do título. Completa é “Não tenho dúvida nenhuma de que esta crise foi o maior atestado de falhanço das visões neoliberais”. Seguido da apologia ao sucesso do SNS e à escola pública… o mesmo SNS a que milhões deixaram de ter acesso; o mesmo SNS que tem registado recordes de excesso de mortalidade não-covid; o mesmo SNS que adia cirurgias e empurra com a barriga mortalidade para o ano que vem? A mesma escola pública que alarga desigualdades e oprime mesmo quem consegue gerir-se sem a ajuda do estado; a mesma escola pública, que nem o raio de um computador consegue providenciar aos alunos mais carenciados?
Caro senhor Primeiro Ministro, ninguém discute que tempos de pandemia são difíceis. Tão mais difíceis serão quanto mais dirigismo central e micro-gestão tentar impor. Tão mais difíceis quanto mais dinheiro gastar em apostas de raspadinha como a TAP. Tão mais difíceis quanto menos confiança tiver nos portugueses.
O senhor gere um país que criou um programa de endividamento para pagar impostos e de acesso à habitação a pensar na classe média. Isto ao fim de 44 anos (não lhe vou imputar o PREC) de políticas estatizantes do seu partido.
Não seja criança e assuma: o estado do país, não tenho dúvida nenhuma, é o maior atestado de falhanço da ação socialista e social democrata, o SNS que o diga!
De todas as lições que tirou nenhuma tem um foco de controlo interno. Claro que nada disto é culpa deles! É a CRP que não serve, é o SNS que não estava preparado (que não tem nada a ver com o domínio da governação socialista dos últimos 20 anos).
É tudo culpa de qualquer coisa externa a ele e ao seu governo. Isto é cinismo e hipocrisia de um governante que tem estado no pico do poder desde 2005. De um partido que tem partilhado a governação do país desde o 25 de Abril.