Por João Maurício Brás
Alguns conceitos surgem por vezes de forma confusa. Igualdade não é igualitarismo, diferença não é desigualdade, um mercado livre e responsável não é o mercado predatório e amoral do capitalismo libertário e do saque, o progresso não é a deformação bizarra do progressismo.
Alguém pedia nestes dias a “tributação dos burgueses em teletrabalho”. Tributação e privilegiados, mantras hipnóticas para muitas e variadas orelhas.
Igualitarismo é incompatível com a liberdade e a justiça social não é punição. A igualdade no ponto de partida e as condições de competição e oportunidades idênticas nada têm a ver com o artificial nivelamento e obrigatoriedade de tornar igual o que é diferente. Impor uma igualdade no ponto de chegada ao que nada tem de semelhante no esforço, na criatividade e no mérito é despotismo insano. Importa também sempre olhar e agir em relação aos que ficam para trás, que não devem ser excluídos, nem tratados como as falsas vítimas perpétuas.
A figura mitológica de Procrusto é o exemplo da mentalidade tipicamente esquerdista, mas não só. Partir uma perna a alguém para ser coxo ao lado de um coxo não é justiça nem igualdade.
Procrusto oferecia guarida aos viajantes, manietando-os na cama de ferro onde se deitavam e adormeciam. Se fossem maiores que a cama, as suas pernas, braços e cabeça seriam cortadas; se fossem mais pequenos, seriam esticadas. O tamanho ideal seria alcançado, mas o que significava isso? A parte da deformação nunca foi pensada por Procrusto, o primeiro esquerdista. A cama tinha várias versões para que os hóspedes nunca coubessem nela.
Millôr Fernandes, o infatigável lúcido explicava que o esquerdismo era uma espécie de alfaiate que quando a roupa não ficava boa, fazia alterações no cliente. Ainda hoje a esquerda possível vive a exigir que se distribua e tribute a riqueza que não cria. Para esta, um governo é uma sucursal da nomenclatura e do partido com uma impressora de fotocopiar dinheiro. Ora, distribuir o que não se tem, nem se gera, só cria dívida e pobreza. Por esse motivo, e pelo desincentivo da iniciativa privada e da liberdade, e pela apropriação do trabalho dos que criam riqueza, todos os países de esquerda genuína terminaram em miséria e na repressão atroz do que é fundamental no ser humano. A liberdade e a igualdade nesses países são apenas propaganda. A única igualdade praticada é a do nivelamento pela miséria e do subsídio para comprar consciências. Essa esquerda vive da submissão e odeia a iniciativa privada, o mérito e o sacrifício, e considera quem prospera, quem se esforça, quem trabalha, quem produz e gera riqueza como inimigos que ou se submetem e pagam o pesado tributo, ou têm de ser castigados. Esta esquerda apenas defende a manutenção das suas elites culturais, académicas e mediáticas, meros funcionários subservientes. O esquerdista não quer acabar com os pobres, mas com os ricos e com a riqueza, seja ela de que tipo for, por isso faz do imposto injusto a sua arma principal para alimentar a sua voragem e a servidão dos seus súbditos. A alternativa a esta visão esquerdista não é a pirataria dos mais astutos, nem o vale tudo.
O rosto do esquerdismo no século XXI é o progressismo, que acrescentou à economia, a raça, o género e o sexo. Ora, da mesma maneira que o esquerdismo foi uma doença infantil do comunismo, também o progressismo é uma doença infantil do esquerdismo.