AstraZeneca. Ex-ministro critica “desnorte” e fala em “dano irreversível na credibilidade” do processo de vacinação

Ex-ministro teceu duras críticas à gestão política europeia do caso AstraZeneca. 

O antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes considerou que a forma como está a ser gerida a questão relativa à vacina contra a covid-19 da AstraZeneca "ilustra o desnorte e a falta de ligação entre os Estados-membros" e "causará um dano irreversível na credibilidade do processo” de vacinação.

"O dia de hoje [segunda-feira] trouxe-nos sinais contraditórios. No exato momento em que se iniciou o desconfinamento surgem notícias preocupantes sobre as vacinas e o processo de vacinação", começou por dizer Adalberto Campos Fernandes, numa publicação feita nas redes sociais, referindo-se à suspensão da administração da vacina da AstraZeneca por Portugal e muitos outros países europeus.

O ex-governante considera que a forma como esta questão tem sido tratada “suscita maior perplexidade".

"A Europa que, no início deste processo, tinha dado sinais promissores de coesão e de entreajuda, surge agora num emaranhado de contradições e de ineficácia", considerou o especialista em Saúde Pública, frisando que "assistimos a um quadro de fragmentação e de divisão entre os países sem que se vislumbre comando ou liderança".

"A forma como está a ser gerida a questão relativa à vacina da AstraZeneca ilustra o desnorte e a falta de ligação entre os Estados-membros", critica.

Para o antigo ministro, num tema tão sensível como este “seria fundamental centrar o processo de decisão nas autoridades científicas e regulamentares evitando, a todo o custo, a pulverização das decisões e a tomada de decisão em cascata".

Adalberto Campos Fernandes diz mesmo que a forma como o tema está a ser tratado "causará um dano irreversível na credibilidade do processo comprometendo o indispensável clima de confiança", uma vez que os sinais da política "não podem fomentar a contradição nem mudar intempestivamente de um dia para o outro sob pena de se instalar a incerteza".

O especialista defende que é "fundamental reagrupar a liderança, na União Europeia, centrando a decisão técnica e científica nas autoridades regulamentares comunicando decisões coerentes e alinhadas sem sobressaltos bruscos nem fundamentação difusa". 

Recorde-se que a suspensão do fármaco ocorreu após serem reportados casos de tromboembolismo entre pessoas vacinadas.  A Agência Europeia do Medicamento, que está a analisar os casos, remeteu para quinta-feira uma posição final sobre uma possível relação de causa-efeito entre casos de tromboembolismo graves detetados entre pessoas vacinadas, reiterando, no entanto, que para já mantém a visão de que os benefícios da vacina são superiores aos riscos de efeitos secundários. Também a Organização Mundial da Saúde apelou aos países que prosseguissem a vacina.