A designer de moda norte-americana Tory Burch está a deixar muitos portugueses com os cabelos em pé nas redes sociais. Em causa está a comercialização de uma camisola poveira, peça de artesanato que caracteriza a cultura e a historia de Póvoa de Varzim ligada à comunidade piscatória da zona.
No site a camisola está assinada como design próprio e custa 695 euros, dez vezes mais do que o preço original, avançou o jornal Público.
Depois da chuva de críticas nas redes sociais, a estilista Tory Burch recorreu ao Twitter para pedir, em português, "sinceras desculpas aos portugueses", ao admitir que foi "um erro" não ter assumido a sua inspiração e que a marca está a "corrgir o erro" ao "notar e honrar a camisola que foi inspirada nas tradições portuguesas". Na mesma mensagem, a marca adianta que está a "trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim" para encontrar uma solução para "apoiar os artesãos locais".
— Tory Burch (@toryburch) March 25, 2021
Inicialmente a peça foi apresentada como uma túnica inspirada numa peça de vestuário típico do México, chamada baja. Depois de várias tentativas de contacto por parte da autarquia de Póvoa de Varzim, a marca, sem nunca responder ou retribuir uma chamada, alterou a descrição do produto no site para “camisola túnica”, segundo o Público.
As duas camisolas parecem “gémeas”. Tal como na peça portuguesa, o design da camisola de Tory Burch apresenta também vários elementos marítimos associados à faina local, como caranguejos, remos e boias de sinalização, e ainda no centro da peça está tricotada a coroa da monarquia portuguesa.
O presidente da união de freguesias de Póvoa de Varzim, Beiriz e Argivai, Ricardo Silva, já reagiu às semelhanças das camisolas no seu Facebook. “A inacreditável história de como uma marca internacional Tory Burch apresenta como sua a nossa Camisola Poveira. Uma luta de David contra um Golias que usurpa, não responde e não reconhece uma das principais peças de artesanato português, que em 2007 integrou a coleção de selos dos Trajes Regionais”.
A fotografia da peça e as páginas da marca nas redes sociais estão a encher-se de comentários de portugueses a criticar, em inglês, a marca.
"Devia ter vergonha! Vender algo que faz parte da cultura de um país e dizer que é de outro? Por esse valor?", pode ler-se no Facebook. "Sem integridade! Sem respeito por uma herança cultural", lê-se nos comentários.
Já no Instagram, as reações à cópia da camisola poveira cingem-se apenas a uma mensagem comum, também em inglês: Ms.Tory Burch, you are stealing! This is an old fisherman's traditional sweater from Portugal (Póvoa de Varzim). Dear costumers, If you like it, please buy from the original local producers. These 695€ should go entirely for them.
Mas as semelhanças não ficam por aqui. Na coleção de artigos para casa de Tory Burch, a marca têm várias peças em cerâmica de inspiração naturalista, neste caso, alimentos como vegetais. Os mais atentos repararam e já associaram estas peças à centenária Bordallo Pinheiro, depois de ser divulgado o artigo do Público sobre a camisola poveira.
Na loja online, a marca está a vender peças de mesa que reproduzem folhas de alface. Uma peça pequena como um saleiro custa 80 euros, já uma terrina vale 360 euros.
Esta não é a primeira vez que a marca é chamada à atenção publicamente por imitar trajes tradicionais de outros países. Em 2017, um casaco de Tory Burch foi acusado de copiar uma peça tradicional romena, pelo perfil do Instagram Give Credit. A designer caracterizou a sua criação como sendo de inspiração africana. Mais tarde, a marca acabou por dar crédito à verdadeira referência do casaco.