A sucessora de Felipe VI

A filha dos Reis de Espanha, a princesa Leonor, das Astúrias, teve esta semana a sua estreia oficial como representante da Coroa espanhola. Numa altura em que a família real enfrenta diversas controvérsias, Leonor pode ser a cara fresca de que a monarquia espanhola está a precisar para renovar a sua imagem.

A principal herdeira ao trono de Espanha, filha do Rei Filipe VI e da Rainha Letizia, a princesa Leonor, de 15 anos, estreou-se esta semana, na quarta-feira, no seu primeiro compromisso oficial sozinha, naquele que é sempre considerado um importante passo na preparação da jovem para as suas responsabilidades futuras no país.

A princesa das Astúrias presidiu às comemorações do 30.º aniversário do Instituto Cervantes, durante as quais coube-lhe a honrosa missão de depositar na Caja de las Letras – uma caixa forte que funciona como uma cápsula do tempo para a cultura espanhola – uma cópia da Constituição, que leu no seu primeiro discurso em público, em outubro de 2018, e um livro Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, que fez parte de uma atividade com a sua irmã mais nova, a infanta Sofia, agora com 13 anos, onde ambas leram as icónicas aventuras de Dom Quixote de La Mancha e seu fiel companheiro, Sancho Pança, durante o primeiro confinamento da pandemia de covid-19, em abril de 2020.

Leonor, que foi recebida no Instituto Cervantes por dezenas de pessoas que a aclamaram entoando «O futuro é a Leonor» – ao que esta respondeu com um tímido cumprimento –, visitou este espaço, com exposições dedicadas às grandes obras de Literatura nas mais distintas línguas co-oficiais de Espanha, acompanhada pela primeira vice-primeira-ministra, Carmen Calvo, pelo diretor do Instituto Cervantes, Luis García Montero, e pela secretária geral desta instituição, Carmen Noguero, que lhe explicou quais são as novas ferramentas tecnológicas disponíveis naquela instituição, assim como as atividades académicas e culturais nela desenvolvidas.

No final da visita, a herdeira do trono espanhol, que foi presentada com três livros pela instituição (Joana, de Joan Margarit, uma antologia poética de Luis García Montero e o livro de poesia Quisiera tener todas las voces, com textos escritos nas diversas línguas de Espanha), felicitou os responsáveis do instituto pelas suas inovações tecnológicas e revelou maior interesse em saber como se encontram os trabalhadores do Instituto Cervantes no estrangeiro que não tiveram oportunidade de regressar a Espanha devido à pandemia. «Gostava de saber como estão, se a sua situação teve melhorias e se conseguiram regressar», cita o El País, acrescentando que Leonor agradeceu o esforço dos trabalhadores deste instituto durante estes meses «tão duros».

 

Um futuro renovado para a monarquia?

Esta primeira aparição da princesa das Astúrias foi promovida pelo seu pai, o Rei Felipe VI, que também aos 15 anos efetuou o seu primeiro compromisso oficial, representando Espanha nas comemorações do 450º aniversário da fundação de Cartagena das Índias, na Colômbia. Na altura, o então príncipe Felipe viajou acompanhado por Felipe González, à época chefe do Governo espanhol.

Depois de ter passado com distinção este primeiro compromisso, é muito provável que Leonor passe a ser uma presença cada vez mais constante neste tipo de eventos.

A princesa das Astúrias é uma das grandes apostas da monarquia espanhola para criar uma renovada imagem da Coroa no país vizinho, nomeadamente depois dos escândalos de corrupção protagonizados pelo anterior Rei, Juan Carlos, que abandonou o cargo e atualmente encontra-se a viver nos Emirados Árabes Unidos, e das irmãs do Rei, que foram vacinadas em Abu Dhabi, durante uma visita ao pai Juan Carlos, apesar de não serem consideradas doentes de risco.

«Leonor ainda é muito jovem, mas moderna, bem-educada e uma mulher – o que é importante à medida que o movimento feminista cresce na Espanha», considerou uma correspondente do jornal inglês The Times, acrescentando que Leonor «é um grande trunfo».

Em destaque esteve também o look escolhido pela princesa para a ocasião: um vestido que já havia utilizado na última edição dos Prémios Princesa das Astúrias, em outubro 2020.

O vestido, estampado e com folhos, é da marca Poète e custa 60 euros. Na altura, esgotou pouco tempo depois de Leonor ter surgido com ele. Para completar, a irmã, infanta Sofia, usou umas sabrinas pretas com um pequeno salto da Pretty Ballerinas, no valor de 195 euros.

Este compromisso acontece poucos meses antes de Leonor abandonar o seu país de origem para rumar ao País de Gales, onde irá prosseguir os seus estudos até 2023.

Depois de passar pelo processo seletivo exigido pelo Comitê Espanhol da United World Schools Foundation (UWC Espanha), que consiste numa fase inicial de pré-seleção, desenvolvida de forma anónima por cada candidata, e uma fase final, realizada eletronicamente com diferentes teses, a filha mais velha dos Reis de Espanha foi escolhida para integrar o programa de estudos do Bacharelado Internacional da United World Colleges (UWC), no UWC Atlantic College.

O programa académico desta escola é desenvolvido em dois cursos e terá como base as Ciências e a Literatura.

Esta nova fase da vida da princesa das Astúrias deverá ter início entre agosto e o início de setembro, em regime de internato, onde contará ainda com a companhia da princesa Alexia, da Holanda, filha do Rei Willem-Alexander e da Rainha Maxima, de 15 anos.

Os custos deste bacharelado, 67 mil libras (aproximadamente 78 mil euros), serão pagos integralmente pelos Reis com o seu subsídio anual.

 

Felipe VI e Letizia em Andorra

Um dia depois de terem visto a estreia a solo da filha mais velha em atos oficiais, os Reis de Espanha cumpriram a primeira viagem conjunta ao estrangeiro desde o início da pandemia. Felipe VI e Letizia visitaram Andorra nos dias 25 e 26 de março, uma presença especial, já que se tratou da primeira viagem oficial de um chefe de Estado espanhol ao principado.

A agenda conjunta dos monarcas foi retomada mais de um ano depois do último compromisso internacional, datado de 11 de março de 2020, quando estiveram em Paris para participarem no Dia Europeu em Memória das Vítimas do Terrorismo, ao lado do Presidente francês, Emmanuel Macron.

De recordar que no último ano Felipe VI viajou sozinho até à Bolívia, a 7 de novembro, para a tomada de posse do novo Presidente do país, Luis Arce; enquanto Letizia esteve sem a companhia do Rei nas Honduras, em dezembro, para entregar ajuda humanitária, após a devastação causada pelos furacões ‘Eta’ e ‘Iota’.