por Judite de Sousa
1. Nesta nova era, os pensadores contemporâneos definem-na como estando nós no século digital ou, também dito, globalização digital.
As redes sociais, para o bem e para o mal, tomaram conta do espaço das nossas vidas, comportamentos, estilos de vida, atitudes, pensamentos, comunicação, ensino, saúde, exercício da política e tudo o mais. O mundo gira à volta de um clique. É como se mais nada existisse à margem de um computador. No mundo digital, tudo é imediato e o que vemos e lemos percorre o nosso processamento mental, muitas vezes de uma forma irrefletida e imponderada. A verdade deixou de estar plasmada nos factos e nas palavras para absolutizar um post e um like. Um post não é mais do que um segundo nas nossas vidas mas muitos são tentados a formular opiniões e juízos de valor em função do que vai sendo ‘googlado’, onde corre toda a informação sem filtro, deixando-nos indefesos perante a muralha digital que nos cerca.
Os tempos da pandemia tornaram tudo mais difícil no que respeita às relações humanas. Os problemas de saúde mental, o parente pobre do sistema nacional de saúde, agravaram-se enormemente mas poucos falam daquilo que se passa entre quatro paredes porque a depressão e a ansiedade são estigmatizantes. A contemporaneidade convive mal com a tristeza e as dores da alma. É um universo subterrâneo que se esconde num imenso sofrimento psíquico.
Deste ponto de vista, este segundo confinamento está a ser mais penoso do que o primeiro. Uma palavra mal dita pode desencadear conflitos desnecessários e, quase sempre, irrelevantes. Nas famílias, já há muito pouco espaço para à normalidade e a gestão dos silêncios pode levar-nos a uma espécie de loucura quando o vazio se instala. Também talvez por isto, muitos refugiam-se no teclado de um smartphone, como se de uma terapia ocupacional se tratasse.
Esperemos que a partir de segunda-feira o convívio e o lazer fora de portas possam começar a ajudar a reconstituir elos emocionais que foram ficando pelo caminho. Esperemos.