por Francisco Mota
A Educação é um dos pilares fundamentais do desenvolvimento do país, as opções de hoje ditam o futuro que teremos amanhã. No último ano assistimos à incapacidade do Governo em antecipar cenários, assegurar a qualidade do ensino e equidade no seu acesso. Para além das assimetrias regionais, entre litoral e interior, rural e urbano, cavou-se, drasticamente, o fosso entre sistemas, público e privado.
Num país que sempre viveu a várias velocidades e em que, estruturalmente, nunca se preparou absolutamente nada, para além de uma dependência clara do centralismo do Estado, anunciou-se sistematicamente um churro de intenções que não passaram disso mesmo, de intenções.
Desde logo, há um ano, ao invés de se priorizar e pensar a educação, quis-se apressá-la, como se de uma ‘corrida’ para as férias de verão se tratasse. Preferiu-se responder às exigências sindicais e instrumentalizá-la a favor do sistema, do que procurar compensar o tempo perdido em qualidade de ensino. Se isso, por si só, não bastasse, cometeu-se a loucura de, uma vez mais, anunciar um choque tecnológico em 15 dias, quando, hoje, como na altura, há sítios deste país que a internet não chega. Por mais que custe aos nossos governantes, há um país real que é bem distinto daquele que é mapeado em Lisboa.
O papel do Estado, neste processo, deveria ter sido, unicamente, o de regulador, dando autonomia às comunidades educativas – em articulação com professores, pais, estudantes e autarquias – a escolha do melhor modelo para ultrapassarem as circunstâncias com que estavam a ser confrontados, de acordo com cada realidade.
No entanto, o processo foi de um completo atabalhoamento, exemplo disso foram as alterações ao formato de avaliação dos exames nacionais, que nada mais fez do que criar um fosso de injustiça, afastamento do mérito e da transparência no acesso ao ensino superior. Uma vez mais, os estudantes veem-se traídos por um Estado que lhes impôs, ao invés de lhes dar oportunidades e liberdades na escolha.
Terminado o ano letivo, foi tudo de férias, incluindo o Governo, como se a pandemia se tivesse dissipado por mão divina. A incerteza, a indefinição e o tempo perdido atiravam a qualidade do ensino e dos projetos educativos para o abismo, incorrendo num erro de palmatória, que terá custos nefastos para esta geração no futuro do país. O Governo tinha a obrigação de antecipar respostas a problemas que eram inevitáveis, como: a testagem permanente a toda a comunidade educativa; os números de burnout na classe docente e não docente; a autonomia dos agrupamentos de escolas para a contratualização de professores; permitir a liberdade de escolha do estabelecimento escolar a frequentar, seja da rede pública ou privada; aquisição e implementação de equipamentos informáticos, que permitissem a digitalização e transmissão de conteúdos através das salas de aula; o assegurar, junto dos municípios, os transportes escolares, cumprindo todas as normas de higiene e segurança. Nem isto, que parecia necessário e evidente, nem o cumprimento das expectativas geradas, por António Costa, aos alunos e às suas famílias, com a promessa de que, através da universalização da Escola Digital, no início do ano deste ano letivo, no qual todos os alunos teriam acesso a um computador e internet.
Mais um percurso formativo iniciado com grandes atropelos e incertezas, no qual assistimos toda a comunidade educativa num exercício de esforço e reinvenção, de forma a garantir o êxito escolar, a qualidade e equidade no ensino, uma vez que o Governo não foi capaz de dar ferramentas e meios que lhe competia.
Com o início do ano civil, uma nova vaga da pandemia colou a nu a fatura da impreparação da tutela e obrigou a uma pausa letiva de duas semanas, com a promessa de que, não seria colocado em causa o normal funcionamento do período letivo, após a sua retoma. Com o reatar das aulas presenciais, esperava-se um Programa de Recuperação para a Educação, garantindo, desde logo, que as aprendizagens não eram postas em causa e que o facilitismo não seria opção. Mas, uma vez mais, o Governo das esquerdas radicais cedeu aos direitos adquiridos e ao sindicalismo. Ao invés de responder ao futuro, preferiu responder, novamente, às férias, desta feita, da Páscoa.
Assim não vamos lá! Varrer para debaixo do tapete não é solução. Estamos, enquanto país, a cometer um dos maiores atentados ao desenvolvimento integral das nossas crianças e jovens. É o futuro que está em causa!