A Associação das Juízas Portuguesas (AJP) está a promover um estudo para aferir os níveis de stress, burnout e outros sintomas psicológicos associados ao esgotamento dentro do Sistema de Justiça, em particular nos Magistrados Judiciais.
De acordo com um comunicado enviado às redações, os coordenadores do estudo são Marco Paulino, coordenador da “Mind – Instituto de Psicologia Clínica e Forense”, e Sandra Neves, médica especialista em psiquiatria no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
Até agora, os estudos relativos a este tópico dentro da área da justiça nacional são ainda escassos. Os que foram feitos a nível internacional revelam que “os profissionais de Justiça experienciam stresse, burnout, depressão ou trauma secundário devido a diversos factores, como o excesso de trabalho (quantidade elevada de processos por tramitar), falta de recursos humanos ou mesmo preocupações relativas à sua segurança”, podia ler-se na nota.
A AJP esclarece que não existe, para já, “nenhum levantamento rigoroso e científico sobre como este fenómeno afecta os profissionais de justiça, especialmente os magistrados” e o objetivo da promoção da investigação é compreender “de que forma o contexto profissional e também a pandemia por Covid-19 interfere com a saúde mental dos magistrados portugueses”.
No comunicado é ainda referida a associação que durante muitos anos se fez entre o burnout e as profissões que requerem uma maior ligação pessoal ao trabalho. Hoje sabe-se, no entanto, que “que o burnout pode acontecer em qualquer profissão, estando associado, por exemplo, a ambientes de grande competitividade, em que as atividades atribuídas não são adequadas a cada indivíduo ou quando há sobrecarga de tarefas e/ou de horários”.
O burnout é atualmente considerado uma questão de saúde pública e, de acordo com os dados mais recentes, Portugal é o país da União da Europeia que ocupa o primeiro lugar no ranking relativo ao risco de padecer desta doença do foro psicológico.
Em fevereiro do ano passado a AJP alertou para casos de profissionais que já se encontravam em burnout mas que, por medo de deixar acumular trabalho, evitavam pôr baixa, optando por fazer a gestão do seu cansaço. Nessa altura, a associação afirmou ainda que o problema não estava no Conselho Superior de Magistratura (órgão que gere os juízes), mas sim no quadro de juízes e na falta de recursos humanos que são definidos superiormente. A presidente da AJP, Paula Ferreira Pinto, afirmou em entrevista à TSF que a associação tem receio de que o “cansaço patológico” seja uma realidade sobretudo sentida pelo género feminino pois são as mulheres quem constitui a maioria do número de juízes a trabalhar em Portugal.