por Pedro d'Anunciação
Mas na política interna, não só não se enganou tanto, como ‘secou’ o SPD, com as políticas sociais que seguiu (maiores do que as defendidas pelo SPD). Não era a linha da CDU, e provavelmente os seus sectores mais conservadores e de direita radical, como a bávara CSU e partes da CDU representadas pelo anterior ministro das Finanças (Wolfgang Schauble), só a aceitaram ao ver os seus bons resultados eleitorais (que lá bem no fundo somava para eles).
Talvez tenha avançado para a liderança europeia da ‘bazuca’, por saber que se ia demitir. E saber também que a Direita alemã (que lá recorreu contra parte da ‘bazuca’ ao Tribunal Constitucional de Karlsruhe, levando todo o Parlamento de Berlim a recuar, até à deliberação daquele órgão), com as suas vistas curtas (talvez como as do SPD, que originou partidos à sua esquerda), não estaria de acordo. Agora, com o anúncio da saída dela, a direita alemã não quer saber mais de políticas sociais. Até porque as sondagens, embora dêem a CDU/CSU a descer, ainda a põem à frente da votação. A verdade é que a Alemanha, começando pela sua CDU, já não respeita Merkel, e deixa mesmo um halo de esperança ao SPD, para voltar ao Governo (coisa que aos ideólogos mais reaccionários da CDU não importará, desde que não afrontem demasiado as suas ideias reaccionárias).
Afinal, foi o que se passou com o próprio confinamento da Páscoa, que Merkel já veio anunciar ter sido um engano (lá bem no âmago, o seu coração balança). Vamos ver é se o SPD consegue ao menos substituí-la, com as suas políticas sociais na Alemanha, e uma melhor atitude na UE. Estou convencido que a CDU fica mais refém dos seus preconceitos de direita, do que das fantásticas políticas sociais de Merkel. Que demonstram bem porque os democratas-cristãos são considerados de esquerda, nalguns países da América Latina – e não só.