Nos últimos dias, em Espanha, sossego e serenidade são sinónimos distantes quando imaginamos uma tarde na praia. Depois do Governo dos Nuestros Hermanos ter declarado a obrigatoriedade de utilizar máscaras nas praias e piscinas, esta quarta-feira, a lei, que gerou polémica entre os habitantes, foi vetada.
O Ministério da Saúde irá propor que, caso seja possível manter uma distância de segurança de, pelo menos, 1,5 metros, os espanhóis possam estar sem máscara nas praias, assim como se estiverem a praticar exercício, aplicando-se em locais como a praia, piscina, lagos ou rios.
No entanto, este equipamento de proteção deve ser adotado quando o indivíduo estiver em movimento, por exemplo, a dar um passeio pelo areal.
A lei original declarava que era obrigatório o uso de máscara em todo o território espanhol para pessoas com mais de 6 anos de idade, impondo uma multa que podia ir até aos 100€ para quem a desrespeitasse, inclusive em transportes aéreos, marítimos, rodoviários ou ferroviários, quer sejam transportes públicos ou privados.
Apesar de ter sido aprovada, esta lei causou a revolta entre a população e, como forma de protesto, dezenas de pessoas organizaram uma festa improvisada na praia de Barceloneta, em Barcelona, onde os participantes se reuniram sem máscaras e sem respeitar o distanciamento social, como um desafio às autoridades.
Mas esta lei gerou dúvidas até entre os membros do Governo. “Não sei se é bom obrigar a utilizar máscara na praia”, questionou o secretário da Saúde pública do governo regional da Catalunha, Josep Maria Argimon, citado pelo El País, justificando que o suor e a areia podem retirar os efeitos protetores da máscara.
Quem também tem dúvidas sobre esta obrigatoriedade é o médico de família e antigo presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira, que, em chamada telefónica com o i, soltou, assim que explicamos o tema deste artigo, um: “Que disparate”.
“Não há justificação para usar máscara na praia, aquilo que interessa mesmo é respeitar a distância de segurança das pessoas que não fazem parte da nossa bolha, isto é, membros do agregado familiar ou aquelas pessoas com quem mantemos contactos diário, como colegas de trabalho”, explica o doutor, que acrescenta que locais como esplanadas ou supermercados são mais perigosos que espaços como a praia.
“Quando vamos a locais como os supermercados e temos que estar em contacto com outras pessoas, faz sentido usar máscara, não só porque é um ambiente fechado, mas também existe uma maior possibilidade de concentração de vírus no ar, mas na praia não é o caso, nem sequer há superfícies metálicas, considero que é muito mais perigoso estar numa esplanada”, confessa.
“É questionável se as pessoas podem estar na mesma mesa sem máscara, porque estão a ingerir alimentos ou bebidas não sendo do mesmo grupo de contacto habitual, e mesmo sendo deste grupo é um risco que se corre”, esclarece. “Juntar pessoas numa esplanada é bem pior do que na praia, mesmo sendo ao ar livre, as pessoas estão mais próximas do que na praia, onde se podem espalhar sem problemas. O perímetro de segurança, que é importante de manter e respeitar, parece mais útil do que a utilização da máscara”, diz Rui Nogueira.
Questionado sobre se uma medida mais drástica, como encerrar as praias, seria uma forma mais segura de garantir uma quebra na transmissão da covid-19, o médico refutou esta teoria, assegurando que, caso se respeite o distanciamento de segurança, não deverá existir qualquer tipo de problema.
“Fechar as praias, nem pensar, deve é ser limitada a entrada de pessoa caso exista um excesso que impeça a existência de um perímetro de segurança entre os grupos, mas só isso”, esclarece o médico, lembrando o sistema de semáforos que foi implementado nas praias portuguesas no ano passado. “Fechar as praias seria um disparate”, concluiu.