A cultura está de luto. Dia 5 de Abril, abriram as esplanadas, ou podemos dizer, explodiram de gente as esplanadas, recomeçaram as escolas para todas as idades, então porquê este luto continuo da cultura? Não será, com certeza, devido ao vírus. Todos ficamos a saber, que a abertura das escolas, foi o que mais provocou contágios, entre crianças com idades superiores a 12 anos. Aliás, esta simples abertura já se reflecte nos números: Com a abertura do segundo e terceiro ciclos esta segunda-feira, os números também deverão refletir-se nestas faixas etárias, entre os 13 e os 17 anos.
Segundo a matriz de risco divulgada esta segunda-feira pela Direção-Geral da Saúde, no continente o R(t), ou seja o índice de transmissibilidade, atingiu o 1, o que significa que país está no limite da zona verde dessa matriz. E este é, para o investigador, «o primeiro semáforo» no caminho do desconfinamento.
Ao mesmo jornal, o matemático Óscar Felgueiras reconhece que há já um conjunto de concelhos a sul (Algarve e Alentejo), também segundo os dados da DGS, com uma elevada taxa de incidência que do seu ponto de visto não devia ter avançado nesta segunda fase de desconfinamento. O mesmo defende o epidemiologista Manuel Carmo Gomes ao jornal i (link não disponível). «Devíamos estar com um espírito mas aberto para ter de pausar, se necessário for, ou adiar a decisão de dias 19 por mais uma semana ou 15 dias», disse, segundo uma notícia do jornal Público.
Portanto, alguém me explica em consciência, como é que abertura da nossa identidade, salas de espetáculos, teatros e cinemas com uma lotação limitadíssima poderá, ser mais prejudicial do que os comportamentos de repetição dos próprios portugueses e das taxas escolares? A cultura não pode ser vulgarizada e tratada como uma coisa qualquer! A cultura, repleta de memórias, cenas e contracenas de peças que foram escritas pelos maiores escritores da nossa história, escritores esses que ajudaram a construir este país, atores que formaram gerações de talento e criatividade para o mundo respirar, pintores que marcaram as épocas para que todos entediados se divirtam e se abstraiam até das próprias catástrofes! Se nos roubam isso, roubam-nos a identidade! E isso não podemos permitir! Mais, não existe uma razão factual para que estejamos de luto e luta durante mais 13 dias, enquanto, o mundo parece ignorar a importância daquilo que o próprio ignora.
Que a ‘bazuca’, virou a mira para outros campos e sectores, todos sabíamos que iria acontecer, mas a cultura, essa ninguém a pode trocar por meia tosta mista e um barril de cerveja numa esplanada qualquer, até porque pedir uma cerveja seria a única coisa que saberiam fazer, se nunca tivessem visitado um teatro, ido a um espetáculo, chorado a ver um filme numa tela gigante de cinema!