por Aristóteles Drummond
O Brasil, além de ser campeão da proteína animal, café, suco de laranja, açúcar, soja, minério de ferro, agora, é de crises também. Enfrenta-as em todas as áreas, a começar pelo combate à pandemia.
As mortes diárias andam em torno das quatro mil, com uma média das duas semanas de três mil. Os hospitais estão no limite, com o vírus atacando os mais jovens, que permanecem mais tempo nas UTIs. As autoridades no assunto estão pessimistas para este mês de abril.
O Governo e parlamentares não entram em acordo na proposta do setor privado de tentar comprar vacinas, doar a metade para o setor público e promover a venda livre. As indústrias de São Paulo, Rio e Minas Gerais estimam em aplicar, por conta própria, de três a cinco milhões de vacinas em seus trabalhadores. O comércio está na mesma direção. Assim como as famílias de classe média, que podem pagar pela vacina, para os seus familiares e colaboradores domésticos. Tudo isso acelera a imunização coletiva, única forma de deter a contaminação, e não custaria nada ao Estado. O argumento de que não existem vacinas à venda para pronta-entrega não impede que se tente, a começar pela notória agilidade do setor privado. No mais, o Brasil realmente possui uma ampla rede de clínicas especializadas e laboratórios, que, ano passado, aplicaram mais de dez milhões da vacina da influenza, dos cem milhões de vacinados no país. O Governo tenta se iludir com o fato de passar dos 22 milhões de vacinados, pelo menos com a primeira dose. O sistema público pode vacinar dois milhões por dia. Mas, para isso, é preciso que haja vacinas disponíveis. Na América Latina, a referência é o Chile, com quase a metade da população vacinada e enfrentando onda de contaminação muito forte.
O andar da economia
• A indústria automotiva está em crise. As vendas, em queda no mercado interno e nas exportações, que andavam por um terço da produção. Mais de dez montadoras, afetadas pela falta de chips, que é um problema mundial, estão trabalhando parcialmente.
• A semana marcou significativas licitações para conceder ao setor privado aeroportos, terminais portuários e estradas. São investimentos para os próximos anos estimados em cerca de seis mil milhões de euros. A dificuldade maior é a falta de confiança na estabilidade política para investimentos de longo prazo E a demora nas reformas, que não andam no Parlamento. Embora recebido a metade do previsto, quinhentos milhões de euros equivalentes, vinte aeroportos, divididos em três blocos, foram passados a livre empresa. Restam agora as duas joias da coroa, que são os aeroportos Santos Dumont, no centro do Rio e Congonhas, na cidade de São Paulo. Foi positivo o leilão considerando o momento.
A Vince que já opera os aeropostos de Salvador, Bahia, ficou com o Manaus, e mais 6 menores, todos na região norte.
• O paraíso continua a ser o setor do agronegócio, que produz muito e mantém um potente mercado consumidor a partir dos ganhos na área rural. O Brasil, este ano, continuará lucrando na proteína animal, em parte beneficiado ainda pela peste suína na China, e o açúcar está com bom preço. O minério de ferro nas alturas – cerca de 190 dólares a tonelada – beneficia o Brasil e, em especial, sua mineradora, Vale, uma das três maiores do mundo.
• Problemas na economia argentina impactam muito o Brasil. E o risco está na falta de pagamento das exportações brasileiras, gerando problemas para muitas empresas. E o turismo também sofre, com menos viagens em função da crise e da pandemia.
• A pandemia gera ainda algumas inovações. Estima-se em mais de seis mil os brasileiros que trabalham para empresas estrangeiras, recebem em dólares e continuam morando no Brasil. São os que trabalham pelo computador. EUA, Canadá e Austrália possuem o maior número destes novos trabalhadores. O palácio costuma ser mais do dobro do auferido no Brasil.
• O Orçamento do Estado para este ano ainda não foi aprovado por divergências quanto a sua viabilidade em ser obedecido. A discussão vai até o dia 20, quando se esgota o prazo para a sanção presidencial.
• O uso do comércio eletrónico provocou alta nos preços das embalagens de 50% desde o início do ano.
• Curiosamente, a indústria naval voltada para embarcações de luxo, com preço médio acima de um milhão e duzentos mil euros, está com encomendas até 2023. Os imóveis de alto luxo, superiores ao equivalente a três milhões de euros, são negociados com mais facilidade. Seriam os efeitos da nova geração que trabalha no mercado de capitais, especialmente em fundos e gestoras de ativos financeiros e dos ganhos dos ruralistas.
Rio de Janeiro, abril de 2021