A Yanomi Hutujura, associação brasileira que representa a reserva indígena Yanonami, acusa profissionais de saúde de vacinarem “garimpeiros” – mineiros ilegais – contra a covid-19 em troca de ouro extraído ilicitamente.
Um documento divulgado esta terça-feira pela associação, refere que elementos da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), órgão do Ministério da Saúde do Brasil, montaram um esquema que já levou ao desvio de cerca de 26 mil doses de vacinas contra a covid-19, que eram destinadas ao povo indígena.
O documento, assinado pelo vice-presidente da associação, Dário Kopenawa, acusa ainda uma auxiliar de enfermagem, da região de Humuxi, de trocar, por ouro ilegal, várias doses de vacinas com os “garimpeiros”, bem como outros materiais como um gerador e gasolina.
“É inadmissível que, em meio à insistente piora nos índices de saúde das comunidades indígenas da Terra Indígena Yanomami e em plena pandemia da COVID-19, o órgão responsável pelo atendimento da saúde indígena tenhas os seus recursos desviados para atendimento de não indígenas que trabalham no garimpo ilegal", lê-se.
Também na região de Uxiu, outra profissional de saúde desviou medicamentos para tratar estes mineiros, considerados invasores da terra indígena, durante a noite. A mulher deslocava-se aos acampamentos para os tratar, em troca de ouro.
A associação garante que as denúncias são verdadeiras e reflete uma prática comum no Brasil – o desvio de bens destinados ao povo indígena.
“Essas informações são verdadeiras, passadas pelas lideranças desses locais. Nestas regiões é bem comum a troca de materiais por ouro, como remédios, e infelizmente, às vezes, esses profissionais acabam por se deixar levar”, acrescenta.
O Ministério da Saúde já reagiu e garante que está a averiguar as suspeitas levantadas.
“Em caso de confirmação da suspeita, o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami tomará medidas administrativas, como desligamento dos funcionários, e apresentará uma denúncia formal ao Ministério Público Federal para ação penal cabível", adiantou a tutela, numa nota enviada à Reuters.
O Ministério acrescenta ainda que é contra a "comercialização de insumos de saúde em troca de qualquer benefício".