Por Judite de Sousa
Talvez nunca como agora fosse tão imperioso dar valor ao tempo. Durante todos estes séculos, os filósofos procuraram um sentido para a vida e deixaram-nos múltiplas coordenadas. A história da humanidade é feita de muitos ciclos, avanços e retrocessos, guerra e paz. Há sempre algo de novo que o homem foi construindo nas diversas etapas que nos conduziram até aos dias de hoje. E há sempre a surpresa e a imprevisibilidade. Como acontece nesta nova fase em que o tempo é gerido dia após dia, sem que alguém consiga antecipar um pouco que seja o futuro. Vivemos o tempo dos ‘ses’. Foi até aqui que nos trouxe a pandemia. Tudo mudou. Literalmente tudo. Ficámos vulneráveis à doença, ricos e pobres, fortes e frágeis, diferentes raças. Passamos a viver a globalização do vírus. Agora, que retomamos a nova normalidade, lembrámo-nos de como éramos felizes à nossa maneira e não sabíamos. Já estamos a escrever uma nova história com memórias que nos deixam saudade e nostalgia.
Pensemos na reconstrução a que estão obrigados os mais desafortunados. E são tantos os que caíram no fundo. É apropriado dizer ‘levantados do chão’. Nunca como agora foi tão necessária a solidariedade e o saber olhar o próximo. Olhar na profundidade de uma mão que se estende como quando era possível tocarmos as mãos uns dos outros. O olhar pode carregar um abraço e há tantos que ficaram por trocar. Não os vamos recuperar mas podemos guardá-los nas gavetas da vida. São tantas que vamos acumulando com as experiências que os caminhos nos traçaram a que somamos as interrogações do presente. As dúvidas obrigam-nos a abrir os corações, a reconstruir o que se perdeu – e foi tanto – e a voltar a sorrir ou então a chorar baixinho.